Destino de pássaro
Há pássaros que levantam voos sempre que perdemos a esperança.
Ou será que o fazem porque não sabemos onde deixamos o destino?
Um dia, percebi que não tinha sorte de homem, nem tempo de homem,
só o espaço infinito dos azuis que se sobrevoam sempre que somos livres.
Nesse dia, abri os braços e deixei-me voar.
Foi assim que ganhei asas.
O tempo escoava-se por entre a ventania.
O espaço, numa demência volteante a raiar o círculo do horizonte.
Confesso que tive medo. Esperava-me o ar. Completo, translúcido,
ora morno, ora gélido, ora suave, ora tempestuoso.
Deixei-me pairar nesse abraço de coisa alguma, tão ou mais cerrado
do que um beijo de brisa e achei-me pássaro!
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Filipa Vera Jardim. Latitude. Fafe: Editora Labirinto, 2023, p 63.
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