sexta-feira, 1 de março de 2024


 A Poesia de Stefano Raimondi foi publicada na Revista Oresteia no dia 5 de outubro de 2022.

.

Scrivo poesie per vendicare tutti i bambini.
Antonia Porta

*

Nella città ci sono punti magici:
angoli dove sapere tutta l’età dell’acqua
dove ballare con la nebbia, parlare
con nessuno, confondersi.

In mezzo alla strada i bambini giocano.
Ci sono palloni
che rotolano in pace
e non li ferma nessuno: scappano.

Signore! Signore è mia!

Passandogli vicino mi sembrava
parlassero della loro vita come una metafora.

Ma invece no: erano mie le immagini
i fiati, le fattezze. Loro
mezzo metro più in là
sarebbero cresciuti, spariti
morti come tutti. Sarebbero
diventati l’edicola, il semaforo
la panetteria …
forse un giardino.

***

Escrevo poesia para vingar todas as crianças…
Antonio Porta

Há na cidade pontos mágicos:
esquinas onde aprendemos toda a idade da água
onde dançar com a névoa, falar
com ninguém, confundir-se.

As crianças brincam no meio da rua.
Ali estão as bolas
que rolam em paz
e ninguém as para: escapam.

Senhor! Senhor é minha!

Passando-lhes rente pareceu-me
que falavam da sua vida como uma metáfora.

Mas não: eram minhas as imagens
as respirações, as fisionomias. Com
meio metro a mais
teriam crescido, desaparecido
morrido como todos. Estariam
frente ao quiosque, ao semáforo
à padaria…
Ou talvez a um jardim.

***

Ci sono stanze piene di parole sole.
Altre che non si tengono neppure tra gli sguardi.
Ci sono case che non hanno pareti
altre fatte d’aria e di buio. Sono
gli spifferi, qui, ad avere ragione.

Appena fuori dalla porta
i bambini parlano sottovoce
complottano, poi corrono
giù dalle scale, si spingono
insieme alla paura…

È da lì che il buio inizia
a coprirli di alfabeti.

***

Há salas repletas de palavras solitárias.
Outras que nem sequer conservam os olhares.
Há casas que não têm paredes
outras feitas de ar e escuridão. São
as correntes de ar que, aqui, hão de ter razão.

Do lado de fora da porta
as crianças falam em voz baixa
conspiram, depois correm
pelas escadas abaixo, empurram-se
umas às outras com medo…

É a partir dali que o escuro inicia
a cobri-los de alfabetos.

Tradução de Victor Oliveira Mateus

***

Stefano Raimondi (Milano, 1964), poeta e critico letterario, laureato in Filosofia
(Università degli Studi di Milano).
Sue poesie sono apparse in “Almanacco dello Specchio” (Mondadori, 2006) e su “Nuovi
Argomenti” (2000; 2004). Ha pubblicato:Una lettura d’anni, in Poesia Contemporanea.
Settimo quaderno italiano (Marcos y Marcos, 2001); La città dell’orto (Casagrande, 2002;
La vita felice 2021 – Premio Sertoli Salis 2002); Il mare dietro l’autostrada (Lietocolle,
2005); Interni con finestre (La Vita Felice, 2009); Per restare fedeli (Transeuropa, 2013 –
Premio Marazza 2013); Soltanto vive. 59 Monologhi (Mimesis, 2016 – Premio Nazionale
Franco Enriquez 2017); Il cane di Giacometti (Marcos y Marcos, 2017- Premio Città di
Trento 2018 e Premio “Il Ceppo- Pistoia” 2018); Il sogno di Giuseppe (Amos 2019 –
Finalista Premio Città di Como 2019 e Città di Fiumicino 2019); Storie per taccuino
piccolo piccolo, (Scalpendi Editore 2022). È inoltre autore di saggi come: La ‘Frontiera’ di
Vittorio Sereni. Una vicenda poetica (1935-1941) (Unicopli, 2000); Il male del reticolato.
Lo sguardo estremo nella poesia di Vittorio Sereni e René Char (CUEM, 2007); Portatori
di silenzio, (Mimesis, 2012). È tra i fondatori della rivista di filosofia “Materiali di
estetica” (Università degli Studi di Milano) e fondatore e membro del Comitato scientifico
di “L’ABB Luoghi abbandonati, luoghi ritrovati. Laboratorio Permanente sui territori e le
comunità” Università degli Studi di Milano. Tiene corsi di scrittura poetica e Filosofia
della scrittura in diverse università, associazioni culturali e strutture scolastiche. Svolge
attività di docenza presso la Libera Università dell’Autobiografia e Scuola di scrittura
creativa “Belleville”. È membro del consiglio scientifico del Centro Studi e Ricerche sulle
Letterature Autobiografiche della LUA di Anghiari. È inoltre tra i fondatori
dell’Accademia del Silenzio.


quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024


A poesia de José Luna Borge foi publicada na Revista Oresteia no dia 27 de fevereiro de 2023.
.

DESPEDIDA

Adiós amigos todos, van llegando
esas horas violeta de la tarde
en que todo se aleja de nosotros
con terca mansedumbre, sin dolor.

Adiós dulces amantes invisibles
en queridas ciudades orvalladas,
el tiempo se dormía en nuestros brazos
y estábamos allí como en un sueño.

Adiós ríos, adiós sendas pequeñas,
trigales y labores congeladas
en el tiempo de un pueblo y su memoria
que brota como el agua de una fuente.

Nos vemos, compañeros imposibles,
amigos a quien amo,
                                 adiós a todos
que todo lo demás es triste lloro.

*****

DESPEDIDA

Adeus a todos os amigos, vão chegando
essas horas violáceas da tarde
em que tudo se afasta de nós
com irredutível mansidão, sem dor.

Adeus invisíveis e brandos amantes
em ternas cidades orvalhadas,
o tempo adormecia em nossos braços
e mantínhamo-nos ali como num sonho.

Adeus rios, adeus curtas veredas,
trigais e trabalhos estancados
no tempo de uma povoação e sua memória
que jorra como água de uma fonte.

Ver-nos-emos, companheiros inacessíveis,
amigos que amo,
                           adeus a todos
que tudo mais é triste pranto.

Tradução de Victor Oliveira Mateus


MEMORIA DE UN INSTANTE

Aquella carne tersa y nacarada
le pareció un milagro al sorprendido
chaval que contemplaba deslumbrado
aquella mata negra entre las ingles
que peraltaba en rizos charolados.

Fueron unos segundos los que estuvo
mirando ese prodigio sin decir
   palabra,
               mudo,
                        inmóvil,
                                   fascinado.

La puerta a medio abrir dejaba entrar
una franja de luz sobre los muslos
sorprendidos dejando imaginar
el nacimiento negro de un abismo
que tardaría tiempo en descifrar.

Ciego de luz y sombras, abandonó
raudo el lugar,
                       entonces no sabía
que aquel instante eterno iba a ser
su inquietante memoria de la carne.

*****

MEMÓRIA DE UM INSTANTE

Aquela carne lisa e nacarada
parecia um milagre ao surpreso
rapaz que observava deslumbrado
aquele tufo negro entre as virilhas
que se enrolava em caracóis luzidios.

Foram uns meros segundos em que esteve
olhando esse prodígio sem dizer
   palavra,
            mudo,
                        imóvel,
                                    fascinado.

A porta entreaberta deixava entrar
uma faixa de luz sobre as coxas
destapadas permitindo imaginar
o negro início de um abismo
que levaria tempo a decifrar.

Cego de luz e sombras, abandonou
rápido o lugar,
                        mas ainda não sabia
que aquele instante eterno iria ser
a sua inquietante memória da carne.

Tradução de Victor Oliveira Mateus


José Luna Borge nació en 1952 en Sahagún de Campos (León, España) y desde 1980 vive en Sevilla. Poeta, diarista, novelista, crítico literario y ensayista, sus últimas entregas son el poemario Reloj de melancólicos (2016), el diario Los hilvanes del tiempo (2023), la novela Y una tarde cualquiera esparces mis cenizas en el mar (2020) y el ensayo Víctor Botas entre el miedo y el asombro (2020)
Estos poemas inéditos pertenecen al libro de próxima aparición El húsar melancólico.


 

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

A Poesia de Alfredo Pérez Alencart foi publicada na Revista Oresteia no dia 19 de junho de 2022.

 Querencia

Somos respiración del tiempo
o voces oídas por el árbol más alto de la tierra.
No sombras, no fronteras;
secreta purificación dentro del poderoso vacío
de tu imagen con mi imagen,
allí donde la vida nunca se agrieta
si dejo de mirar tu sonrisa
o el corazón que se llevaron los remolcadores.

Sé que refulges en la llama de mi mirada,
pues eres luz amarrada a mi cuerpo
lleno de palabras para la noche del existir
junto a ti, ya devueltos al origen,
música hablando de nosotros,
orquídeas mejorando su color si te nombro.
No inviernos, no otoños;
querencia muy afirmada alrededor del río
y los pájaros del trópico y la meseta.

Somos respiración del tiempo, princesa,
y es normal esta querencia, esta desnudez perfecta
que se acompaña con el canto de los ángeles,
mientras Dios nos abre su ventana.

***

Dedicação

Somos o sopro do tempo
ou vozes escutadas pela árvore mais alta da terra.
Não sombras, não fronteiras;
secreta purificação dentro do pungente vazio
da tua imagem com a minha,
ali, onde a vida nunca se anula
se deixo de ver o teu sorriso
ou o coração que os rebocadores arrastaram.

Sei que refulges no brilho do meu olhar,
pois és luz agarrada ao meu corpo
repleto de palavras para a noite de existir
junto a ti, regressados já à origem,
música falando de nós,
orquídeas aperfeiçoando a sua cor se digo o teu nome.
Não invernos, não outonos;
dedicação bem confirmada ao redor do rio
e dos pássaros dos trópicos e da meseta.

Somos o sopro do tempo, princesa,
e é normal esta dedicação, esta nudez perfeita
acompanhada pelo canto dos anjos,
enquanto Deus nos abre a sua janela.


Ardo, y es por ti

Ardo, y es por ti.

Tú fuiste la llama
que me dejó iluminado
para siempre,

pues sigues estando aquí
y en mi cuerpo
conservo todo cuanto
me diste,

y ya no me duele
el corazón ni me aflige
el desamparo.

Rozando mi piel,
sabes regresar.

***

Ardo, e é por ti

Ardo, e é por ti.

Tu foste a chama
que me deixou iluminado
para sempre,

pois continuas aqui
e no meu corpo
conservo tudo quanto
me deste,

e já não me dói
o coração nem o desamparo
me aflige.

Rasando a minha pele,
sabes regressar.

Tradução de Victor Oliveira Mateus


quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024


La gloria de la chinche
.
No me llames chinche
llámame Cimex lectularius,
soy el guardián de tus sueños,
la presencia invisible y tan real
que desata tus más ocultas ansias
de Livingstone doméstico.
.
Búscame o, mejor, ignórame.
Inténtalo.
.
Me denigras, me maldices,
desempolvas remedios legendários,
consultas a la abuela y algurú,
lo pruebas todo.
Iluso.
.
Insúltame cuanto quieras,
reniega de mí, relégame
a la más infame ignominia.
Tú mismo.
Yo aqui seguiré,
tus uñas nerviosas
cantarán aún mis proezas.
La comezón que alimentas
me entroniza en los anales
de tu historia.
Tu prurito es mi gloria.

***

A glória do percevejo
.
Não me chames percevejo
chama-me Cimex lectularius,
sou o guardião dos teus sonos,
a presença invisível e tão real
que desata as tuas aflições mais ocultas
de Livingstone doméstico.
.

Procura-me, ou melhor, ignora-me.
Tenta.
.
Difamas-me, amaldiçoas-me,
recuperas remédios lendários,
questionas a tua avó e o guru,
tentas tudo.
Crédulo.
.
Insulta-me sempre que quiseres,
despreza-me, expulsa-me
para a mais infame ignomínia.
Tu mesmo.
Eu continuarei aqui,
as tuas unhas nervosas
continuarão a cantar as minhas proezas.
A comichão que suportas
entroniza-me nos anais
da tua história.
O teu prurido é a minha glória.

Tradução de Victor Oliveira Mateus

*-*-*-
.Juan Carlos Martín Cobano (Carmona, Espanha, 1967) é um poeta, filólogo, editor, livreiro e tradutor de origem andaluza, embora tenha sido formado em Barcelona. Publicou a coletânea de poemas Tiempo de cruzar el umbral (2020) e o livro de ensaios Poesía como oficio sacro y otros escritos (2021). Ministrou workshops e conferências em diferentes países com a Associação Latino-Americana de Escritores Cristãos (ALEC), é presença habitual no encontro Los Poetas y Dios (Toral de los Guzmanes, León), no Encuentro Cristiano de Literatura (Salamanca) e no Encuentro de Poetas Iberoamericanos de Salamanca (cinco edições). Foi também convidado especial de duas edições do Encontro Luso-Hispano-Americano de Música e Poesia, ROIZ, realizado na cidade portuguesa de Castelo Branco em 2019 e 2021. Até janeiro de 2018 foi secretário-geral da ADECE e é atualmente secretário-geral da TIBERÍADES, Rede Ibero-Americana de Poetas e Críticos Literários Cristãos. É também secretário do Encuentro de Poetas Iberoamericanos – Salamanca desde 2021. Os seus poemas e textos estão publicados numa dezena de antologias, algumas delas em português, bem como em revistas como Taller Igitur, Cardenal Revista Literaria, (México), Nagari, New York Poetry Review (EUA), Crear en Salamanca (Espanha).

*-*-*-



 

 Las muletas de la cucaracha

(La cucaracha ya no pode caminhar
porque no tiene, porque le faltan
las dos patitas de atrás.
Canción popular)

.
.
Fue traumático, lo admito,
eran las dos traseras,
pero eran mis patitas.
.
El pueblo me las quitó
con sus cantares livianos.
Acaso no sabían
que sus rimas
mutilaban de verdade?

Aún las busco al despertar
y cuento dos pares tan solo.
Com muletas no es igual.
.
Me vengaré en sus fobias.
Infestaré sus ágapes,
colonizaré sus museos
me passearé por sus tartas de boda,
anidaré en sus sueños,
aovaré entre sus altares,
nadaré en sus biberones,
surcaré sus guisados,
pariré a sus mandamases,
inspiraré a sus poetas.
.
Ignoraban que sus cantos
pudieron despojarme
de todos mis membros.
Mas solo querian reirse,
menguar mi habilidade,
nada de matarme.
.
Pues ahora es mi turno
y com torpe paso me dirijo
hacia mi trono, mi escenario:
les dedico una canción
que es mi mera presencia.

***

As muletas da barata

Foi traumático, admito-o,
eram as duas traseiras,
mas eram as minhas patinhas.
.
As pessoas tiraram-mas
com as suas canções ligeiras.
Acaso não sabiam
que as suas rimas
mutilavam de verdade?

Ainda as procuro quando acordo
e conto dois pares apenas.
Com muletas não é a mesma coisa.
.
Vingar-me-ei nas suas fobias.
Infestarei os seus banquetes,
povoarei os seus museus,
passear-me-ei pelos seus bolos de casamento,
habitarei os seus sonhos,
aclamarei no meio dos seus altares,
nadarei nos seus biberões,
sulcarei os seus guisados,
parirei ante os seus chefes,
inspirarei os seus poetas.
.
Ignoravam que os seus cantos
poderiam despojar-me
de todos os meus membros.
Apenas queriam rir-se,
diminuir a minha destreza,
e nunca me matar.
.
Pois agora é a minha vez
e com trôpego passo dirijo-me
para o meu trono, para o meu palco:
dedico-lhes uma canção,
que é a minha presença.

Tradução de Victor Oliveira Mateus

*****

La mosca
.
Un mar claro y vertical de honduras prohibidas
rechaza a la mosca que embíste incansable
al cristal de la ventana.
.
Sabe el insecto que el confort de las paredes
es una mentira
de días contados.

Las migajas calefactadas la engañaran unas horas,
media vida,
y ahora el mundo real, lo orgânico,
estás a três milímetros infranqueables de luz.
.
Sin saberlo, espera a la mano gigante del porteiro.

***

A mosca
.
Um mar límpido e vertical de profundezas interditas
repele a mosca que investe incansável
contra o vidro da janela.
.
Sabe o inseto que o conforto das paredes
é uma mentira
com os dias contados.
.
As migalhas aquecidas enganaram-na por algumas horas,
meia vida,
e agora o mundo real, o orgânico,
está a três milímetros intransponíveis de luz.
.
Sem o saber, aguarda a mão gigante do porteiro.

Tradução de Victor Oliveira Mateus

-*-*-*


.


.
.


.