sábado, 25 de maio de 2024

Ensaio de Victor Oliveira Mateus publicado na "Revista Oresteia" a 03/05/2024.

 Aproximações ao Pensamento de Joseph Ratzinger – Artigo 2: Evolucionismo e Criacionismo.

Os confrontos entre Evolucionismo e Criacionismo têm, ao longo dos tempos, proporcionado os mais diversos debates, distintos quer em veemência quer ao nível da sua fundamentação. Logo em 1860, um ano após Darwin ter publicado A Origem das espécies, assistimos ao confronto entre Samuel Wilberforce, bispo de Oxford e membro da Câmara dos Lordes, e Thomas Henry Huxley, morfologista e paleontólogo; é um embate entre dois grandes vultos da era vitoriana: um da Igreja, outro da ciência. Atravessando o Atlântico, encontramos em tribunal, nos E.U.A., no Tennessee, em 1920, John Thomas Scopes, professor local acusado de ensinar nas aulas a teoria de Darwin da evolução, violando assim a lei estatal. Scopes é declarado culpado e multado, embora posteriormente um recurso tenha anulado a decisão judicial devido a um pormenor técnico. Por fim, em 1957, em plena Guerra Fria, após as conquistas espaciais soviéticas e os seus livros escolares começarem a apresentar exposições completas e pormenorizadas da evolução, surge, no seio do cristianismo americano, uma alternativa a essas posições que viria a ser chamada de Criacionismo, contudo, isto acabou por conduzir a que em 1981, no estado do Arcansas, outro julgamento acabasse por deliberar a favor do Evolucionismo, forçando assim a retirada do Criacionismo dos curricula letivos.
Um dos primeiros homens a falar publicamente a favor do darwinismo, para além de cristão, era clérigo anglicano: refiro-me a Baden Powell, nomeado professor de Geometria pela Universidade de Oxford, que, na época do debate entre Huxley e Wilberforce que referi acima, escreve palavras encomiásticas para com o A Origem das Espécies de Darwin. Também Charles Kingsley, sacerdote e professor de História Moderna na Universidade de Cambridge, afina pelo diapasão de Powell. Uma das figuras mais interessantes desta lista foi o teólogo de Oxford: Aubrey Moore, que, darwinista e cristão, defendia que a ciência iria agora permitir a Deus participar no nosso modo de ver as coisas, a toda a hora e em todo o lugar, isto é, seria agora possível regressar à visão cristã da intervenção divina direta, à imanência omnipresente do poder divino.
Mas não é só do lado da religião que surgem posições conciliatórias, também do lado da ciência irrompem posições

de harmonização e integração: cito aqui dois dos maiores evolucionistas desde de Darwin: o inglês Ronald Fisher, autor de The Genetical Theory of Natural Selection (1930), e Theodosius Dobzhansky, americano nascido na Rússia, autor de Genetics and the Origin of Species (1937). Ambos os cientistas eram assumidamente cristãos: o primeiro na Igreja Anglicana, o segundo na Igreja Ortodoxa. Para Fisher, se a evolução ainda não terminou, a criação também ainda está a decorrer, ela não cessou há muitos séculos atrás e, se quisermos mesmo articular esse processo com o Génesis, nós estamos ainda no sexto dia, aquele em que Deus ainda não descansou para contemplar a sua obra. Dobzhansky articulará a fé com a ciência de modo muito semelhante. Contudo, à medida que nos vamos aproximando da contemporaneidade a distância entre fé e ciência irá apresentar-se, para alguns autores, como incomensurável ou, em alguns mesmo, insuperável, é o caso de Richard Dawkins (nascido a 26 de março de 1941): biólogo em Oxford, profundamente ateu e duro darwinista. Se Dawkins é o forte defensor do Evolucionismo, encontramos na outra extremidade Phillip E. Johnson (1940-2019) grande adversário dessa corrente e defensor acérrimo do Criacionismo. Todavia, e para além destas posições extremadas, autores existem que argumentam que a ciência e a religião podem coexistir em harmonia, é o caso de Stephen Jay Gould (nascido em Nova Iorque a 10 de setembro de 1941). Gould, paleontólogo que se assume como agnóstico, argumenta que não há oposição entre ciência e religião, já que não há sobreposição entre ambas, pois os seus campos de especialidade profissional são radicalmente distintos: a ciência interessa-se pela constituição empírica do universo, já a religião tem por preocupação a busca de valores éticos corretos e o significado das nossas vidas. Este sentimento de unidade e harmonia é também vivido por outros autores como Keith Ward (nascido a 22 de agosto de 1938), professor de Teologia em Oxford, que defende que a seleção natural é uma teoria fecunda, pois o relato evolucionista e a crença religiosa numa força criativa não só são compatíveis, como se reforçam reciprocamente.
Desenhado que está o pano de fundo da polémica, discorrerei agora sobre a posição de Joseph Ratzinger no que a ele diz respeito.

Assim, e no respeitante ao que tenho vindo a escrever, este autor não se coíbe de colocar a questão: “Mas hoje a nossa pergunta é: na época da ciência e da técnica, ainda tem sentido falar de criação? Como devemos compreender as narrações do Génesis?” (RATZINGER, 2023, p 27). Vemos, por conseguinte, que a problemática da criação se encontra imbrincada com o modo de olhar a narrativa bíblica. A sua posição é bastante clara: a Bíblia não é um manual de ciências naturais, o que ela pretende é compreender a verdade autêntica e profunda da realidade, ou seja, o que o Génesis ambiciona é revelar que o mundo não é um conjunto de forças contrastantes entre si; aquilo a que a Bíblia aspira é revelar que o mundo tem origem no Logos, na Razão eterna de Deus. A partir deste tópico a questão da Criação segue a par da metodologia com que devem ser olhadas as Escrituras: “Portanto, a Escritura diz-nos que a origem do ser, do mundo, a nossa origem não é o irracional, mas a razão, o amor e a liberdade.” (RATZINGER, 2023, p 27). A partir daqui temos de reconhecer que o homem não se fez sozinho; os humanos não são mais do que pó, e é Deus que inspira o sopro de vida nesse corpo modelado de terra, ou seja, nós trazemos em nós esse sopro vital, daí a inviolabilidade da pessoa humana, a sua dignidade, que jamais deve ser entendida através de critérios utilitaristas. Uma vez este ponto assente, o jardim com a árvore do conhecimento do bem e do mal revela-nos tão-só (ou acima de tudo?) que o homem deve reconhecer que o mundo não é propriedade a destruir e a explorar, já que sendo dádiva do Criador, ele é um dom a cultivar e a conservar. Mas Ratzinger não se limita ao modo de ler as Escrituras, ele articula essas narrações com o contexto sócio-cultural ao qual elas se dirigiam e se dirigem, pois da Bíblia ninguém pode obter informações relativas às ciências naturais, já que dela apenas se podem obter conhecimentos relativos à experiência religiosa, então “Tudo o mais não passa de uma imagem e de uma forma de narração com o único objectivo de tornar realidades profundas acessíveis aos seres humanos.” (RATZINGER, 2009, p 19). Urge então distinguir “forma de uma representação” de “conteúdo dessa mesma representação”, e a forma terá sido escolhida num contexto epocal em que podia ser compreendida, uma vez chegados aqui surgem-nos dois outros subtemas: um, só se pretende representar, através dessas imagens, realidades que são perenes, isto é, não interessa demonstrar como as árvores, as estrelas, o sol, etc., foram aparecendo, a intenção é outra: mostrar que Deus criou tudo o que vemos neste Aqui que nos envolve, que tudo procede da Razão de Deus, de um Logos criador pela “Palavra de Deus, que é a mensagem do seu acto criador” (RATZINGER, 2009, p 25); dois, há uma constatação da (e na) Bíblia aparentemente contraditória com o que escrevi anteriormente, é que ela adapta constantemente as suas imagens ao desenvolvimento do pensar que, no tempo, necessariamente vem ao seu encontro; as imagens, portanto, corrigem-se constantemente através dum processo interativo e gradual, e é desse modo que elas nos vão dizendo que não passam de imagens de algo que as ultrapassa. Assim, as narrativas bíblicas relativas à criação são um modo de referência à realidade distinto dos que podemos encontrar na biologia, na astrofísica, na paleontologia, etc., elas não explicam o processo evolutivo do que nos rodeia nem a estrutura matemática da matéria, dizem-nos, isso sim – e de forma diferente -, que há um só Deus e que o universo não é um mero campo onde forças obscuras se digladiam, mas que é Criação do Logos, da Razão e da Palavra de Deus. Contudo, convém acrescentar que as passagens particulares da Bíblia não caiem numa ausência de significado nem que este se encontra limitado ao seu conteúdo: elas representam a verdade segundo o modo próprio dos símbolos – exemplo: a narração bíblica está marcada por números que não reproduzem a estrutura material do universo, mas o plano interno da sua construção, assim encontramos com frequência o 4, o 7, o 10; a expressão “disse Deus” surge 10 vezes na narração da Criação, numa antecipação dos 10 Mandamentos, que se apresentam como o eco dessa mesma Criação, e os exemplos – não arbitrários – são inúmeros, numa tradução que aponta para a linguagem, para o espírito, para a tradução da linguagem do universo, para a lógica com que Deus o criou. Antecipando a posição de Ratzinger posso afiançar que a relação Evolução/ Criacionismo não se apresenta sob a forma de uma oposição: “Ora, espíritos mais pensativos deram-se há muito conta de que não estamos perante uma alternativa. Não podemos dizer criação ou evolução. A fórmula correcta seria criação e evolução, pois estes dois conceitos respondem a duas questões diferentes. A história do pó da terra e do sopro de Deus, que atrás ouvimos, de facto, não explica como as pessoas surgiram, mas antes aquilo que elas são. Explica a sua mais profunda origem e lança uma luz sobre o projecto que elas são. A teoria da evolução procura, por outro lado, compreender e descrever os desenvolvimentos biológicos. Mas, ao fazê-lo, não pode explicar de onde veio o “projecto” das pessoas humanas, nem a sua origem interior, nem a sua natureza particular. Neste sentido, somos aqui confrontados com duas realidades que são complementares – em vez de se excluírem mutuamente.” (RATZINGER, 2009, p 50). Esta posição remete-nos para um outro tema importante no pensamento de Ratzinger, refiro-me à questão da relação Saber/ Ignorância, que, por sua vez, nos assinala um tema fundamental no pensamento deste autor: a Fé. Considerando que esse tema tangencia tudo o que aqui abordei, tomo a liberdade de referir o cuidado com que, segundo Ratzinger, devemos trilhar as sendas do conhecimento: “Obviamente, esta mistura de saber e ignorância, de conhecimento material e profunda incompreensão existe em todos os tempos. Por isso, a palavra de Jesus relativa à ignorância, com as suas aplicações nas diversas situações da Escritura, deve, também hoje, inquietar os pretensos sábios. Porventura não seremos cegos precisamente quando nos consideramos sábios?” (RATZINGER, 2011, p 171).

BIBLIOGRAFIA
Consultar o final do Artigo 1, também neste número da Revista.

                                   Victor Oliveira Mateus

segunda-feira, 13 de maio de 2024

Ensaio de Victor Oliveira Mateus publicado na "Revista Oresteia" a 08/04/2024.

 Aproximações ao pensamento de Joseph Ratzinger – Artigo 1:

a Teologia da Fraternidade.

A primeira obra de Joseph Ratzinger a granjear grande audiência foi o Diechristliche Bruderlichkeit (Irmãos em Cristo), não se tratava propriamente de uma obra consagrada ao Pai e à Patrística, mas antes de um tratado doutrinal. Ratzinger havia já abordado a problemática da fraternidade aquando do seu trabalho em torno de Santo Agostinho e de Santo Optat, acresce agora o facto desta problemática se impor, no momento, nas democracias europeias, em vésperas do Concílio Ecuménico, que viria depois a sublinhar a igualdade fundamental dos batizados, que seriam chamados – todos! – a uma santidade comum.
Ora, o modo como Ratzinger aborda o tema da fraternidade é, não só original, como muito mais perspicaz do que aquilo que aparenta ser: este problema diz-nos, por conseguinte, que toda a união conduz a uma separação entre aqueles que são incluídos no grupo e os que são deixados de fora. Na esperança de tentar resolver este paradoxo, confirmado no quotidiano, Ratzinger apoia-se na revelação bíblica: irmão, no Antigo Testamento, é aquele que, como eu, pertence à comunidade do povo de Deus. Logo, é a paternidade divina que surge como fundamento da fraternidade israelita, mas eis que assoma algo de estranho no profetismo yahvéista: o Deus nacional de Israel é o Deus universal. Trata-se então de saber qual a conexão estabelecida entre a realidade de um Deus universal, supranacional, e o facto de haver apenas um único povo que o adora como sendo o seu Deus. Mas há ainda aqui outro aspeto importante: esse elo não é estabelecido por Israel, mas por Deus, pela livre decisão da sua Graça, a ser assim, Deus mantém-se livre de rejeitar Israel caso as suas transgressões lhe deem motivo para tal. A conclusão que podemos tirar daqui é que se a relação de Deus com a nação hebraica é especial, ela não é, no entanto, exclusiva, e isso introduz um elemento de incerteza na questão da fraternidade de Israel para consigo própria. Contudo, outro modo de entender o judaísmo irrompe, um que, em certos aspetos, difere da religião do Antigo Testamento, e que é produto de um processo de racionalização que dá ao povo a ideia de uma eleição gratuita, ou seja, privada de causa; dando então a ideia de que Deus havia proposto a Torá a todos os povos da Terra, mas que apenas Israel a aceitara, tornando-se, por essa razão, o único povo de Deus, isto significaria, em última análise, que não havia sido Deus que escolhera Israel, mas antes este que escolhera Deus, é, então, por aqui que passa a linha que separa o Antigo Testamento visto como praeparatio evangelica e o judaísmo da sinagoga.
Joseph Ratzinger encontra na antropologia teológica do Antigo Testamento a confirmação deste traço fundamental que ele captou na doutrina da eleição desse mesmo Testamento: todos os homens estão unidos em Adão, e em Noé, por conseguinte, uma aliança particular liga o Deus de todos os homens a Abraão e à sua descendência. Os judeus são, então, irmãos num sentido elevado, mas também pela unidade que carateriza a relação do género humano com o seu Criador; os outros são igualmente irmãos, embora num sentido mais abrangente. A lei de Moisés confirma, aliás, esta asserção pelas suas disposições para com o “estrangeiro que está à porta”. Será, pois, a partir desta perspetiva que Ratzinger irá depois examinar a ideia de fraternidade no mundo profano desde o helenismo até Karl Marx, com especial incidência em Schiller, na Revolução francesa, no Liberalismo com as suas relações com a franco-maçonaria e em Marx.
Joseph Ratzinger interpreta assim o Novo Testamento como esse cume que testemunha o plano de Deus para a humanidade, e de onde brota a resolução do paradoxo da fraternidade.

Se à primeira vista as palavras de Jesus se podem prestar a uma interpretação que perpetua o problema, já que elas poderão parecer prolongar uma certa ambivalência, isto é, a ideia de uma fraternidade universal que bordeja uma fraternidade particular, já em São Paulo, onde a tese da paternidade se apresenta de modo aprofundado, num modelo trinitário que começava a ganhar raízes, veicula-se não só a doutrina do Cristo segundo Adão, mas defende-se sobretudo que se os homens, no seu todo, não forem ainda irmãos em Cristo, eles poderão e deverão sê-lo. Dito de outro modo: o amor entre os cristãos, não exclui, antes implica a agapè (o amor da Caridade).
Joseph Ratzinger nota ainda na Patrística, à volta deste tema, comentários algo equívocos: conhecedor profundo da tradição norte africana, já que estudioso exímio de Santo Agostinho, debruçar-se-á sobre Tertuliano onde vê uma doutrina conciliatória baseada numa dupla fraternidade, uma que não exclui nenhum homem dada a sua ascendência comum, e a outra será uma fraternidade baseada no conhecimento de Deus e desse Espírito de santidade concedido aos cristãos. Por outro lado, em São Cipriano a linguagem da fraternidade confina-se exclusivamente à colegialidade dos bispos. Urge, então, uma nova síntese, e Joseph Ratzinger irá defender a sua leitura deste tema, que será apresentada em quatro momentos:

No primeiro momento dessa sua síntese, Joseph Ratzinger insiste no facto da fraternidade cristã não se poder basear em qualquer outro princípio que não seja a Fé, ou seja, para que essa fraternidade se possa concretizar urge a aceitação consciente e espiritual da paternidade de Deus, bem como uma unidade de vida em concordância com a Graça de Cristo. E esta dimensão social deve ser sempre renovada na consciência dos crentes! Joseph Ratzinger vai aqui pedir a sua inspiração a um filósofo alemão da Idade Média: Mestre Eckhart. Para Eckhart tornar-se um em Cristo significava a anulação do nosso “eu”, deixar de considerar o seu ego como um absoluto. Contudo, a este pressuposto convinha adicionar também – clarificando – o conceito de Fé tal como fora definido pelo Concílio de Calcedónia (451/10/08 – 451/11/01), isto é, que Jesus era simultaneamente Deus e homem.
Em segundo lugar, Ratzinger demonstra que o dom divino de uma nova fraternidade traz com ele um imperativo humano: a supressão de todas as fronteiras que possam existir no interior da família cristã, incluindo nesta perspetiva as nações, os diversos tipos de nacionalismos, bem como tudo o que no interior das diversas classes se possa apresentar como fator destruidor da fraternidade cristã.
O terceiro elemento da síntese de Joseph Ratzinger consiste na advertência relativamente a um impetuoso otimismo no que diz respeito à concretização da comunidade fraternal, pois existe uma miríade de armadilhas no caminho para a philadelphia (literalmente: “amor pelos irmãos”). Este tópico prende-se com o estatuto que a Eucaristia tem no pensamento de Ratzinger, já que é colocando no centro essa Comunhão que é simultaneamente fonte e centro, que se reforça o caráter unitivo da vida comunitária, mas convém, no entanto, tornar claro que a fraternidade cristã não tem por objetivo a criação de um qualquer circulo esotérico, ela tem por objetivo o serviço do Todo: a comunidade fraternal cristã não é contra, mas antes pelo Todo, no entanto, se este universalismo, esta salvação de Todos, não fizer parte da fé cristã, ela terá seguramente de fazer parte da esperança dos cristãos.
Finalmente, num quarto momento da sua síntese, encontramos um caráter ecuménico, onde Ratzinger sugere: mesmo que a fraternidade cristã não possa significar tudo isto, então o termo “irmãos separados” com o qual os católicos costumam nomear os não-católicos, poderá adquirir um sentido preciso e fecundo, e numa achega que antecipa as suas futuras reflexões sobre Martinho Lutero, sublinhará mesmo que se aquilo que foi condenado no passado, a justo título, como heresia, não pode ser transformado agora em verdade, poderá no entanto desenvolver-se aí uma via eclesial particular de modo a que aquele que pertence a uma tradição cismática viva como um crente, e não como um herético. Esta última tese viria a ser bem acolhida por outros pensadores, como por exemplo o inglês Fergus Kerr, que a considerará mesmo um marco central na vida do Catolicismo.

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Temas do próximo artigo (o 2º) sobre este autor: Evolucionismo e Criacionismo.

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Bibliografia (para todos os artigos sobre este teólogo e filósofo, incluindo os ainda a publicar):

  • BALTHASAR, Hans Urs von (2008) – Só o Amor é Digno de Fé. Lisboa: Assírio & Alvim.
  • BERGOGLIO, Jorge (2020) – Fratelli Tutti. Prior Velho: Paulinas Editora.
  • BUZZI, Vincenzo (1993) – “Rerum Novarum, 15. Maio. 1891”, in Caminhos da Justiça e da Paz, Doutrina Social da Igreja. Lisboa: Rei dos Livros, pp 33-67.
  • HALIK, Tomás (2022) – A Tarde do Cristianismo, O Tempo da Transformação. Prior Velho: Paulinas Editora.
  • KASPER, Walter (2016) – A Misericórdia. Cascais: Princípia Editora.
  • KUNG, Hans (1996) – Projecto Para uma Ética Mundial. Lisboa: Instituto Piaget.
  • NICHOLS, Aidan (2008) – La pensée de Benoît XVI, Introduction à la Théologie de Joseph Ratzinger. Genève: Ad Solem Éditions SA.
  • RADCLIFFE, Timothy (2017) – Na Margem do Mistério, Ter Fé em Tempos de Incerteza. Prior Velho: Paulinas Editora.
  • RATZINGER, Joseph (1994) – La mort et l’ au-delà. Paris: Fayard
  • RATZINGER, Joseph (2009a) – A Caridade na Verdade (Encíclica Caritas in Veritate). Braga: Editorial A. O. Secretariado Geral do Episcopado.
  • RATZINGER¸ Joseph (2009b) – No Princípio Deus Criou o Céu e a Terra. Cascais: Princípia Editora.
  • RATZINGER, Joseph (2010) – Os Mestres: Franciscanos e Dominicanos. Braga: Editorial Franciscana, 2010.
  • RATZINGER, Joseph (2011) – Jesus de Nazaré Parte II, Da Entrada em Jerusalém até à Ressurreição. Cascais: Princípia Editora.
  • RATZINGER, Joseph (2012) – Jesus de Nazaré, A Infância de Jesus. Cascais: Princípia Editora.
  • RATZINGER, Joseph (2023a) – O Que é o Cristianismo, Quase um Testamento Espiritual. Cascais: Princípia Editora.
  • RATZINGER, Joseph (2023b) – Salvos na Esperança (Encíclica Spe Salvi). Prior Velho: Paulina Editora.
  • RATZINGER, Joseph (2023c) – Testamento, Permanecei Firmes na Fé. Prior Velho: Paulinas Editora.
  • RONCALLI, Angelo (1993). “ Pacem in Terris, 11. Abril. 1963”, in Caminhos da Justiça e da Paz, Doutrina Social da Igreja. Lisboa: Rei dos Livros, pp 195-233.
    RUSE, Michael (2009) – Pode um Darwinista Ser Cristão?, as relações entre ciência e religião. Lisboa: Ana Paula Faria Editora.
  • WOJTILA, Karol (1993). “Laborem Exercens”, 14. Setembro. 1981”, in Caminhos da Justiça e da Paz, Doutrina Social da Igreja. Lisboa: Rei dos Livros, pp 541-593.

sexta-feira, 3 de maio de 2024

A Poesia de Edoardo Occhionero foi publicada na Revista Oresteia no dia 27/04/2024.
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In autunno arriva un giorno che passano le pecore
all’Edoardo piace vederle.
Allora usciamo fino al confine del giardino
e loro passano, entrano anche nell’orto con gli agnellini.
Il pastore le riunisce nel campo accanto e fa arrivare la roulotte.
Prima di sera lì c’è il bosco marrone col fuoco in un secchio.

*-*

No outono há um dia em que passam as ovelhas
O Edoardo gosta de as ver.
Então vamos até à ponta do jardim
e elas passam, até mesmo na horta, com os cordeirinhos.
O pastor junta-as no campo próximo e puxa a roulotte.
Antes do anoitecer lá está o bosquete marrom com a fogueira num balde.

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Col bucato che trasuda tutto il sole ho respirato il pomeriggio
nei minuti, nei gradini. Quando era l’orma delle cose, il verde
dei calici col piatto grande per la frittata. Dopo tutto
anche le finestre ci guardavano finire questi brevi luoghi.
Rendere di nuovo la cura di sbucciare una mela. Cos’era
in fondo aspettare le amarene e il rastrello che le tirava giù.
Mi tengo a questa porta che è vedere dietro
nelle corse, nei lampioni cadaverici di fine estate.

*-*

Com a roupa refletindo o sol todo respirei a tarde
nos minutos, nos degraus. Quando se via as pegadas das coisas, o verde
dos cálices com o prato grande para a omelete. No fim de tudo
até as janelas nos viam abandonar estes breves lugares.
Exprimir de novo o cuidado de descascar uma maçã. O que era
no fundo esperar as ginjas e o ancinho que as puxava para cima.
Agarro-me a esta porta que é ver por trás
os caminhos, nas cadavéricas lâmpadas do fim de verão.

Poemas traduzidos para português pelo próprio autor

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Edoardo Occhionero è vincitore del Premio Elena Violani Landi 2019, sezione “Inediti”. Suoi testi sono comparsi online su Atelier Poesia, Argonline, Diario di passo – il blog ufficiale di Franca Mancinelli, La morte per acqua, Malgrado le mosche e Mirino. Alcune sue poesie in giapponese sono state pubblicate su BUBU e in diversi numeri di Inkarepoetori, rivista interuniversitaria che raccoglie i contributi dei principali atenei giapponesi. Le poesie qui presentate sono tratte dalla silloge d’esordio La casa e tutt’intorno (Arcipelago itaca, 2024).