segunda-feira, 6 de agosto de 2018


Henry Wriothesley, 3º Conde de Southampton, patrono e amigo próximo de Shakespeare.



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Sempre pensei os Sonetos 18 e 23 como dos mais belos poemas de amor alguma vez escritos. A Rebecca Shoptaw fez com o 23 uma curta. Muito se tem discutido acerca dos Sonetos, parece que do 127 ao 154 são todos dedicados a uma mulher (Lady Dark), enquanto os outros referem como muso Henry Wriothesley, 3º Conde de Southanpton. Uma coisa é certa: nenhum dos Sonetos é dedicado a Anne Hathaway, esposa de Shakespeare e mãe dos seus três filhos, mas  sem entrar nessa discussão, direi tão-só que confirmei a legendagem do filme e esta corresponde rigorosamente ao Soneto em causa.
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                       Soneto 23


Como imperfeito actor sobre o proscénio
com medo sai da parte que lhe dão,
ou fúria a mais nalgum mais feroz génio
sendo excessiva afrouxa o coração,
com medo da verdade até me esquece
dizer do amor o claro ritual
e a força o meu amor perder parece
co'a carga a mais do meu amor total.
Oh, deixa que em meu livro, eloquente,
fale meu peito num presságio mudo
que amor defende, espera e paga urgente,
mais que a língua que disse tudo e tudo.
    Saibas ler o silente amor escrito!
    Olhos ouvir, do amor é fino esprito.
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  Shakespeare. Sonetos. Lisboa: Bertrand Editora, 2002, p 57 (Tradução de Vasco Graça Moura).
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Outra tradução:
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Soneto 23 - William Shakespeare

Como no palco o ator que é imperfeito
Faz mal o seu papel só por temor,
Ou quem, por ter repleto de ódio o peito
Vê o coração quebrar-se num tremor,

Em mim, por timidez, fica omitido
O rito mais solene da paixão;
E o meu amor eu vejo enfraquecido,
Vergado pela própria dimensão.

Seja meu livro então minha eloqüência,
Arauto mudo do que diz meu peito,
Que implora amor e busca recompensa
Mais que a língua que mais o tenha feito.
Saiba ler o que escreve o amor calado:
Ouvir com os olhos é do amor o fado.
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