sexta-feira, 16 de novembro de 2018


   Desces o talude em direção ao rio, às águas onde o tempo é uma roca à espera dos elos que nunca tecerás e onde o júbilo, miragem intermitente de tantos, te concede essa nudez em que te vês e queres. Jamais alguém te devolverá o ruído da superfície, o vórtice daquelas canções, que, sem melodia, enfeitavam cicatrizes cuja origem nem sequer sabias. Desces para a frescura da margem. Encostas-te a um olmo. Esperas. Vendo bem, para nada te serviram os versos, as espinhosas dissertações, o capricho dos sentidos múltiplos. Sim, vendo bem, a felicidade é tão-só esta espera, esta serenidade entre uma árvore que te ampara e a leveza de um rio que te acena.
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 Mateus, Victor Oliveira Mateus. Aquilo que não tem nome. S/c.: Coisas de Ler Edições, 2018, p 16.
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