terça-feira, 18 de dezembro de 2018


Os pássaros levantam voo e devoram
a própria imperfeição. Entregam o coração
ao rigor frágil das asas
e propagam lume pelos veios do mundo.

Incendeiam florestas na ponta entontecida dos ramos
bruscos fogos invisíveis.
Desenham métricas impossíveis, pautas enigmáticas
até onde a luz ressurge de frente.

São vivos vulcões voláteis a subir e a descer
os declives da tarde
esses súbitos pássaros inadiáveis.

Não lhes inibe o voo as sombras do medo
nem os caudais do vento nem os espelhos errantes
do espaço. Nada inibe a ascensão, a queda inevitável.
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Fragas, Rui Miguel. Sobre o prumo das falésias. Fafe: Editora Labirinto, 2018, p 33.
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