quinta-feira, 31 de janeiro de 2019



Os ventos


Aves sem asas
viajam invisíveis
selvagens ou mansos.
Namoram nuvens
nômades.
Farejam faróis
afastados.
Alcançam torres
perdidas.
Varrem cidades
esquecidas.
Franzem águas
de tanques.
Levantam
ondas e dunas.
Assobiam
sustenidos.
Alvoroçam copas
hastes e relvas.
Carregam chuvas
derrubam frutas.
Balançam bandeiras
nos mastros e
lençóis nos varais.
Abrem portas e janelas.
Arrancam chapéus
e arrrepiam cabelos
até que se somem
no sovaco da terra
calados serenos.

Resta na epiderme
a lembrança
do sopro leve.


   Cabral, Astrid. Íntima fuligem. Manaus: Editora Valer, 2017, pp 171-172.
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