quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019



     Anunciação

"À força de tanto imaginar,
centraremos neste quarto a janela
Grande como uma porta,
Por onde entre a luz,
Não maior que a da jovem Maria...
Encimando-a, um óculo redondo.
Dela se avistará uma paisagem palaciana
Evocando o paraíso?!
O Anjo ajoelhado, à esquerda,
como usualmente,
Mas sem atavios, salvo o ceptro,
dada a sua condição de mensageiro.
Vestido do branco etéreo
De quem vem de outro reino.
A pomba do Espírito Santo resplandecente
A ouro como os mestres iluministas gostam
De acentuar, com seus raios luminosos apontando
Para toda a estância e também lá para fora,
Para essa cidade que os crentes anseiam.
Maria, à direita, ajoelhada, a ler os textos sagrados
Como manda o cânone.
O seu vestido pintá-lo-emos
Sempre da cor do universo de que será Rainha.
Na serenidade do rosto, a candura mais doce
Da sua obediente entrega.
A água viva de que Ela será o Vaso"

Desculpai,
Poderemos representar com esta cantarinha
De barro tão popular e tão nossa?

"Certo!
Empregarei uma claridade maior
Para esta tábua!"

Muito bem me parece, Mestre!
Todas as representações, anteriores às vossas
escuras eram!

"Avançamos!"
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  Sousa, Ana Peres de. Demanda do Poético no Retábulo da Igreja Matriz de Freixo de Espada à Cinta. S/c.: Coisas de Ler Edições, 2018, pp 32-33.
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