quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019
Nos teus olhos
navegaste.
em silêncio desembarcaste neste lugar de encantamento que
celebra o inesperado encontro da terra com o mar, onde
marinheiros ajustam marés à lava alongada pela ilha.
vem comigo desvendar mistérios, pisar a torpeza dos ímpios,
nas águas descobrir búzios lilás, avançar por ermitérios
submersos nas profundezas do mar, despertar do sono
os que choram distâncias, remar rumo ao tormento das
mágoas, afogar a alagada escuridão, apagar ânsias em silêncio
afundadas no árido rubor riscado
nos espelhos à deriva nas águas.
- e vou estranhar dentro de mim e vou abrigar dentro de
mim o som da densidade dos espelhos quebrados, onde as
imagens de navios se ocultam embarcadas.
trazes nos lábios o sabor brando dos beijos que no mar se
desfazem em fragmentos de espelhos molhados,
dizem ser mica que brilha em cada grão de areia, mas eu
conheço o brilho dos teus olhos disperso por todas as ondas
rasgadas pelo mar...
resta ao amor o cântico da imensidão salgada, aguardando
pelo teu olhar mergulhado na praia onde me deito a
convocar a nudez do teu corpo ao longe embarcado
num atlântico navio a navegar...
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Levy, Henrique. O rapaz do lilás. Confraria do Silêncio: Açores, 2018, pp 31-32.
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