terça-feira, 5 de março de 2019

( Da Secção Cartas que me foram devolvidas, a Carta Nº 28):

De um vício ou de um amor, ninguém sai facilmente. Ao heroísmo do arranque inicial segue-se a nostalgia do prazer perdido e a recaída no que havíamos abandonado. Somente quando a saúde e a dignidade estão gravemente comprometidas é que o homem se despede de um vício ou de um amor. É possível, é mesmo certo que exista mais do que um homem que não conheça esses dois grandes suplícios. Contudo, esse homem, não poderá jamais orgulhar-se de conhecer a vida bem a fundo. Por mais forte que seja a nossa vontade de rompermos com o que nos foi profundamente agradável, essa privação deixa inactivas certas funções do espírito e certas ansiedades orgânicas que protestam e se revoltam, à sua maneira, da insatisfação a que as condenámos. Dizer humanidade é dizer debilidade.(...)
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  Botto, António. Poesia. Porto: Assírio & Alvim, 2018, p 342.
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