domingo, 24 de março de 2019


Nunca mais regressaste a casa desde agosto.
Eu fiquei sentado na soleira da porta
à espera da cura.
Brincava ocasionalmente com o fogo,
porque era a tua voz que me trazia o outono,
era a fuligem nas tuas mãos que me ensinava
a hermenêutica dos dilúvios
e a mecânica da extinção das espécies.

Mas nunca mais regressaste a casa e eu aprendi
a soletrar silenciosamente a tua ausência.
.
.
  Teixeira, José Rui. Autópsia, poesia reunida. Porto: Porto Editora, 2019, 141.
.
.
.