domingo, 14 de abril de 2019


                                            Todas são ridículas

Joaquina escrevia cartas de amor, quase todos os dias, ao seu "adorado". Acabava com "tua para sempre", na sua letra redonda e miúda. Dobrava cuidadosamente a folha, de linhas azuladas, e introduzia-a no envelope, que tinha um forro violeta. Depois de escrito o endereço postal, metia a carta por uns segundos no decote, como para lhe transmitir algo da própria pele. Sandra recebeu um sms do Hugo. Guardou nas mensagens recebidas para reler de novo. Era do rapaz que tinha conhecido na véspera. Trazia muitos sinais redondos a enviar sorrisos e muitas abreviaturas de palavras, como por exemplo: Bjs. Já tinha armazenado, na pasta respectiva do pequeno telemóvel, várias mensagens daquelas, do Tiago, do Rodrigo, do Diogo, do Afonso... Só ainda não tinham descoberto a abreviatura da palavra "amor". Ignora-se por que certas palavras continuam a resistir à queda das letras.
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  Lourenço, Inês. Últimas Regras. Lajes do Pico: Companhia das Ilhas, 2019, p 35.
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