terça-feira, 2 de julho de 2019




                             Ananke


Agora que deixa o crepúsculo na folhagem
a última luz do dia, enquanto tudo se desvanece
e a noite se acende, penso no quanto
quis para a minha vida e nem sequer intentei,
no que nunca imaginei e, no entanto, fui:

nas coisas perdidas e encontradas
sem que se saiba como,
destroços que o mar atira para uma praia
e o infortúnio de uns passos na areia,
 que apagando as ondas, nos fazem achar,

tesouros que na bruma do esquecimento
para sempre se perdem
alimentando um halo de lendas
que nos salva do frio, inexplicavelmente,
quando chega o inverno.

Agora que um canto de nostalgia se levanta
de todo o vivido e do por viver
e o melancólico ferreiro palpita
com um ritmo frenético,
penso, por um instante, no destino.
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 Manilla, Antonio. Suavemente ribera. Madrid: Visor Libros, 2019, p 29 (Tradução de Victor Oliveira Mateus).

Nota: Ananke, ou Ananque, era na Mitologia Grega a Deusa da inevitabilidade, a mãe das Moiras, a personificação do Destino.
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