quarta-feira, 10 de julho de 2019
O Labirinto
Numa mão o fio e na outra a espada,
o coração um nó, os passos sigilosos,
entro no labirinto assustado e feliz
como quem decidiu afrontar o seu destino.
Mas no labirinto apenas escuto o silêncio.
Não há mugidos, nem vozes, nem passos que não sejam
os meus, nem ruídos para para além da minha respiração.
Começo a suspeitar que talvez não haja ninguém
e que o terrível monstro
seja apenas uma invenção do medo dos homens,
do seu obscuro desejo de desaparecer.
Quando chego ao espaço central vejo nele um poço.
"Como um umbigo" - penso, enquanto me aproximo dele.
Vejo o meu reflexo na água estagnada e compreendo
que o minotauro está dentro de mim,
que a luta havia começado,
que acabará comigo
se antes não chegar o fim a resgatar-me.
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Piqueras, Juan Vicente. Atenas. Madrid: Visor Libros, 2013, p 25 (Tradução de Victor Oliveira Mateus).
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