segunda-feira, 12 de agosto de 2019


                   Deslumbramento

O meu deslumbramento vive
De entender coisas nulas marginais
Mendigos vermes cardos.

Coisas sujas e moles, ásperas e mínimas.

Tudo o que brilha e voa tem o sol
E os anjos de Deus na sua órbita
São ungidos.

Tudo o que rasteja e repugna
Que fede a indigência e a sovaco
Os anjos de Deus descuidam
Voando para além.

Eu não.

Eu sei quanto custa valer zero
Ficar nas margens da angelical rejeição
E seu enjoo.

Mesmo a ferir a feder a expelir
Eu vejo e sinto
Aromas e afagos
Nos mendigos nos vermes e nos cardos.


   Lima, Cláudio. Eu sempre guardei rebanhos. Fafe: Editora Labirinto, 2019, p 27.


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