segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Nos primeiros anos que se seguiram a 2000 a Labirinto organizava uns pequenos livros temáticos em que participaram vários autores. Os temas foram vários: a Liberdade, o Natal, a Mulher, etc. Colaborei em alguns deles. Quando me convidaram para o livro cujo tema seria o Amor, resolvi fazer uma provocação: escrevi um poema de uma grande simplicidade, simplista mesmo, pejado de imagens batidas a só com rimas pobres. Ninguém percebeu a minha artimanha e alguns amigos pensaram mesmo que eu estava numa fase de grande mediocridade, que estava a escrever como um menino de 9/10 anos. Pois bem, confesso agora: era mesmo uma coisa desse tipo que eu queria fazer, e pela reação dos pares consegui: eu pretendia um pequeno texto, muito primário, baseado na belíssima cena acima sugerida do filme Peixe Lua de José Álvaro Morais. Quem vir a cena no youtube perceberá! Ora, nesta época de Festividades, creio que fica bem uma coisa sobre o Amor, algo cuja arquitetura seja tão-só uma inocência deste tipo, um fulgor que aproxime.
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.E se te transformasses em pássaro?
Eu transformava-me em céu, um vasto céu azul com nuvens de fogo
nas pontas e sulcos de pétalas no centro: um fulgurante azul celeste
criado só para ver todo o fascínio do teu irromper,


E se te transformasses em água?
Eu transformava-me em fonte, ou talvez numa nascente, que a ânsia
de ver-te inundasse e nas paisagens que te vou escrevendo a minha
sede abrandasse.


E se te transformasses em estrela?
Uma imponente estrela de espuma com brilho de lava e gestos de
vento? Eu transformava-me em sombra, uma sombra incandescente,
onde tu: pássaro, água ou estrela, pudesses andar e na varanda da
minha espera devagarinho viesses pousar.
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  Mateus, Victor Oliveira. Coleção Afetos, Amor: Fafe: Editora Labirinto, 2008, p 56.
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