quinta-feira, 26 de dezembro de 2019
O purificador nocturno
Às vezes ignoro as luzes,
o que gravita como ofício de poder.
É uma insónia intacta e sem estrelas
em que a rosa abre as mãos,
aquece a fruta desabrochada
e rebenta os poemas
que cantam e estremecem
fora do mundo.
A tectónica vivificada pela força do sal
que é uma queimadura nos dedos
a escreverem o cristal
até se tornarem transparentes
como corpos diluídos pela chuva.
A identidade é fechar as pálpebras
à noite
e virar-se de costas
para acender a salvação.
Pessoa, Maria João. Emoções Fora da Lei. Fafe: Editora Labirinto, 2019, p 30.
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Nota - Prémio Internacional de Poesia António Salvado/ Cidade de Castelo Branco.
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