quinta-feira, 28 de outubro de 2021


(...) trazia em mim não só um ideal físico de beleza entrevista e que reconhecia de longe em toda a mulher que passava a distância suficiente para que as suas feições confusas não se opusessem à identificação, mas também o fantasma moral, disposto sempre a encarnar-se, da mulher que ia enamorar-se de mim e dar-me as réplicas naquela comédia amorosa que eu trazia escrita na cabeça desde criança, comédia que, a meu ver, qualquer rapariga amável quereria representar, contanto que tivesse um mínimo de disposições físicas para o seu papel. Nessa obra, e qualquer que fosse a nova "estrela" que eu trazia para que estreasse ou repetisse esse papel, a cena, as peripécias e o texto conservavam uma forma ne varietur.
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 Marcel Proust. Em Busca do Tempo Perdido Vol. 2, à sombra das raparigas em flor. Lisboa: Livros do Brasil, S/d., p 455 (Tradução de Mário Quintana).
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