Elegia retomada
Turistas que pastais ao sol poente
olhai:
António Nobre passou por aqui um dia
achacado e só
(os males de Anto, já se vê)
à frente do cortejo tísico de velhas como choupos,
de pescadores e virgens enluaradas.
É certo que em Paris não aprendera línguas
mas escrevia fluentemente o português
e sobretudo lia
lia Garrett mais este livro triste que é Portugal
escrito sobre as margens do nosso largo rio emocional,
lia-o por dentro como mais ninguém nas linhas
e entrelinhas onde cresciam musgos
e misérias.
Mas porquê lixar-vos com estas tretas?
- os Cursos de Verão são na Faculdade de Letras
e ainda vão na 44ª edição! -
Ficai à vontade!
Passados os estivais calores de '75
podeis de novo encharcar-vos da melancolia deste país
em que de Abril
só restam m/águas mil:
servi-vos do sal ou do céu
com que temperamos a humidade que nos vai na alma
bebei-nos o sol de norte a sul
fotografai-nos os rostos espantados
para entulho e glória dos Museus do Subdesenvolvimento
contemporâneo.
Mas sabei que um rio subterrâneo
recomeça dentro de nós a comprimir-se contra as margens.
Urbano Bettencourt. outros nomes outras guerras, Antologia. Lajes do Pico: Companhia das Ilhas, 2014, pp 13-14.
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