sábado, 1 de outubro de 2022


                  O relógio avariado


é a memória
de velhos segundos
que alimenta
esse pulso?


os ponteiros mancos
de avanços 
e recuos


às dez para as oito
de qual luto?


qual foi o dia dessa morte
que ainda se agita ao fundo?


( se o que se ouve
em teu ritmo
não pode ser o eco
de algum espírito


se em ti
nada excede
a engrenagem


que fez
de tua máquina
miragem)


sussurram os segundos
que ainda te restam
na memória: é esse
o pulso?


teu luto
cego
   e surdo?


de tudo
o óbvio


do tempo
que não redime
os relógios


  Iacyr Anderson Freitas. Os campos calcinados. São Paulo: Faria e Silva Editora, 2022, pp 50-51.
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