O relógio avariado
é a memória
de velhos segundos
que alimenta
esse pulso?
os ponteiros mancos
de avanços
e recuos
às dez para as oito
de qual luto?
qual foi o dia dessa morte
que ainda se agita ao fundo?
( se o que se ouve
em teu ritmo
não pode ser o eco
de algum espírito
se em ti
nada excede
a engrenagem
que fez
de tua máquina
miragem)
sussurram os segundos
que ainda te restam
na memória: é esse
o pulso?
teu luto
cego
e surdo?
de tudo
o óbvio
do tempo
que não redime
os relógios
Iacyr Anderson Freitas. Os campos calcinados. São Paulo: Faria e Silva Editora, 2022, pp 50-51.
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