Olhem para nós. Ouçam-nos.
Não somos vultos sem identidade.
Somos mulheres.
Somos mães filhas irmãs amigas.
Temos um nome.
Indefesas frente ao terror
é silencioso o lamento o arrepio.
Qualquer gesto nos pode destruir.
Ficámos sem chão.
Avistamos a montanha
mas um deserto invisível
acorrenta-nos os pés.
O céu é um abismo.
Onde estão as estrelas
os anjos o nosso deus?
Não. Não choramos.
Temos o olhar parado nos livros proibidos
na inutilidade dos dias que hão-de vir
nas palavras reprimidas
na mais indecifrável prece
tão perto da descrença.
Quem poderá salvar-nos?
Graça Pires. O improvisao de viver. Lisboa: Poética, 2023, p 63.
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