segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

A Poesia de Maria Grazia Calandrone foi publicada na Revista Oresteia no dia 10 de junho de 2022. A foto da publicação é da autoria da fotógrafa Barbara Ledda.
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INTERIORE INVERNAL

a Gaetana, mia nonna

Ogni volta che ti penso – ma non è esatto
scrivere che ti penso, semplicemente
consisti
nel peccato
di amare la vita – vedo la cucina
d’inverno, l’ammattonato a scacchi di graniglia bianca
e verde, il carrello carico
di broccoli e arance, le foglie generose
e scure sporgere all’orlo
delle buste, l’aria fredda, la brina sui vetri
e il sole di mezzogiorno
intiepidire la soglia
di marmo, i vasi
di gerani al davanzale, le arance sul vassoio, i pavimenti
passati a cera. Un interno perfetto. E la tua muta
presenza seduta
come un sasso negli anni sulla riva del fiume,
la tua esistenza concentrata all’angolo
della cucina. Mentre il mondo cambiava (la guerra
del Vietnam, Pasolini, Moro,
la caduta del Muro
di Berlino) tu come gli animali
stavi senza domande. Senza dolore. Semplicemente
esistere. Esistere
e basta. Essere casa come sono casa
i corpi, gli abbandoni, le guarigioni.

E il tuo corpo alla fine oltre il limite umano sporgeva chiaro
all’orlo della vita come le foglie
d’arancio dal carrello. Esistevi oltre il limite,
per non lasciarmi sola. Curavi il disamore
che sarebbe arrivato, nella mia vita
come in ogni vita, con il tuo essere
come la pietra d’angolo
della realtà, quella che argina
l’incrollabile vuoto
della materia, l’albero appena prima del deserto.

***

INVERNO INTERIOR

Para Gaetana, minha avó

Todas as vezes que penso em ti – mas não é exato
escrever que penso em ti, simplesmente
consiste
no pecado
de amar a vida – vejo a cozinha
de inverno, a tijoleira com um padrão quadriculado de grés branca
e verde, o carrinho carregado
de brócolos e laranjas, as folhas generosas
e escuras acenando nas beiras
dos sacos, o ar frio, a geada nas janelas
e o sol do meio-dia
a aquecer a soleira
de mármore, os vasos
dos gerânios no peitoril, as laranjas na bandeja, os pavimentos
encerados. Um interior perfeito. E a tua muda
presença sentada
como uma pedra ao longo dos anos na margem do rio,
a tua existência concentrada no canto
da cozinha. Enquanto o mundo girava (a guerra
do Vietname, Pasolini, Moro,
a queda do Muro
de Berlim) tu como os animais
permanecias sem interrogações. Sem dor. Simplesmente
existir. Existir
e basta. Ser casa como são casa
os corpos, os abandonos, os restabelecimentos.

E o teu corpo no final além do limite humano emergia claro
na orla da vida como as folhas
da laranjeira no carrinho. Existias para além do limite,
para não me deixares só. Curavas a falta de amor
que chegaria, à minha vida
como a todas as vidas, com esse teu ser
de pedra angular
da realidade, aquela que estanca
o inabalável vazio
da matéria, a árvore que antecede o deserto.

Tradução do italiano de Victor Oliveira Mateus


INTELLETTO D´AMORE

La poesia è anarchica, risponde a leggi solo proprie, non può e non deve piegarsi a nient’altro
che a se stessa.
La sua legge interiore è ritmo, musica assoluta.
Questo spiega la commozione che proviamo nell’ascoltare letture di poesia in lingue a noi sconosciute.
Abbiamo l’impressione di comprendere
anche se non capiamo le parole,
perché le nostre molecole consuonano con la musica profonda della poesia,
che è la stessa in ogni lingua: un ultrasuono, un rumore bianco.
Una lingua invisibile, un ronzio nucleare
traducibile per approssimazione,
una sonorità che entra in risonanza con la parte più estranea e profonda delle nostre molecole
e col rombo primario della materia
che compone la sedia
sulla quale sediamo.
Come certa musica – penso al Chiaro di luna di Ludwig van Beethoven – è un linguaggio
letteralmente universale:
i poeti lo scrivono da sempre, ma le recenti scoperte astrofisiche lo confermano
con rigore scientifico, non più solo intuitivo: il nucleo più profondo di noi
è composto della stessa materia delle stelle.
Parole di Margherita Hack: «Tutta la materia di cui siamo fatti l’hanno costruita le stelle. Tutti gli elementi, dall’idrogeno all’uranio, sono stati fatti nelle reazioni nucleari che avvengono nelle supernovae, stelle molto più grandi del Sole, che alla fine della loro vita esplodono e sparpagliano nello spazio
il risultato di tutte le reazioni nucleari avvenute al loro interno».
Dalle scoperte ultimissime sappiamo ancora che
metà degli atomi che formano i nostri corpi è materia prodotta fuori dalla Via Lattea, viene da una distanza
che non si può
commensurare.
La vibrazione delle nostre molecole entra in risonanza materiale con la vibrazione dell’universo,
fin dentro l’universo sconosciuto. Questa forza
«che move il sole e l’altre stelle»
è quella che Dante chiama «amore».
La poesia intercetta il corale profondo e ininterrotto di questa forza, intona la sua voce
al rombo delle stelle extragalattiche
e al rombo primario della materia
che compone la sedia
sulla quale sediamo.
È un oggetto fatto di parole
sempre d’amore.
E basta.

***

INTELECTO DE AMOR

A poesia é anárquica, apenas obedece às suas leis, não pode nem deve vergar-se a nada além de si mesma.
A sua lei interior é ritmo, música absoluta.
Isso explica a comoção que experimentamos ao ouvir leituras de poesia
em línguas para nós desconhecidas.
Temos a impressão de compreender
mesmo se não entendemos as palavras,
porque as nossas moléculas se harmonizam com a música profunda da
poesia,
que é a mesma em todas as línguas: um ultrassom, um branco rumor.
Uma língua invisível, um zunido nuclear
traduzível por aproximação,
uma sonoridade que entra em ressonância com a parte mais admirável
e profunda das nossas moléculas
e com o rugido primordial da matéria
que compõe as cadeiras
em que nos sentamos.
Como certa música – estou a pensar na “Sonata ao luar” de Ludwig van
Beethoven – é uma linguagem
literalmente universal:
os poetas escrevem-na desde sempre, mas recentes descobertas da
astrofísica confirmam-no
com rigor científico, e não pela mera intuição: a nossa mais profunda
essência
é formada da mesma matéria das estrelas.
Palavras de Margherita Hack: “Toda a matéria de que somos feitos
formou-se a partir das estrelas. Todos os elementos, do hidrogénio
ao urânio, foram produzidos pelas reações nucleares que ocorrem nas
supernovas, estrelas muito maiores do que o Sol, que no final das suas
vidas explodem e dispersam pelo espaço
o resultado de todas as reações nucleares que ocorreram no seu interior.”
Das últimas descobertas sabemos ainda que
metade dos átomos que formam os nossos corpos é matérias produzida
fora da Via Láctea, vem de uma
distância que não se consegue
medir.
A vibração das nossas moléculas entra em ressonância material com a
vibração do universo,
no seio de um universo desconhecido. Esta força
“que move o sol e as outras estrelas”
é aquela a que Dante chama “amor”.
A poesia interceta o coral profundo e ininterrupto desta força, sincroniza
a sua voz
com o rumor das estrelas extragaláticas
e com o rugido primordial da matéria
que compõe as cadeiras
em que nos sentamos.
É um objeto feito de palavras
sempre de amor.
E basta.

Tradução do italiano de Victor Oliveira Mateus


Maria Grazia Calandrone è poetessa, scrittrice, giornalista, drammaturga, autrice e conduttrice Rai, regista per «Corriere TV». Tiene laboratori di poesia in scuole pubbliche e carceri. Premi Dessì, Europa, Lerici Pea, Metauro, Montale, Napoli, Pasolini, Trivio per la poesia, Bo-Descalzo per la critica letteraria. Ultimi libri Serie fossile e Il bene morale (Crocetti 2015 e 2017), Gli Scomparsi – storie da «Chi l’ha visto?» (Pordenonelegge 2016), Giardino della gioia (Mondadori 2019), Fossils (SurVision, Ireland 2018), Sèrie Fòssil (Edicions Aïllades, Ibiza 2019), l’antologia araba Questo corpo, questa luce (Almutawassit Books, Beirut 2020) e il romanzo Splendi come vita (Ponte alle Grazie 2021, semifinalista Premio Strega). www.mariagraziacalandrone.it

A foto desta publicação é da autoria de Barbara Ledda ©

The photo in this publication was taken by Barbara Ledda ©