domingo, 2 de fevereiro de 2025


Observo este céu, este céu
que está aqui agora, diferente, igual a todos os outros,
perscruto o seu fluir como um rio,
acompanho o seu percurso e pergunto-me
quem sou eu aqui e agora, que direito
tenho de estar aqui agora relativamente a todos
os outros, àqueles que deixaram o seu rasto há muito tempo
na noite ou ao amanhecer tentando encontrar
o seu destino, encontrar sabe-se lá que outro
novo corpo para habitar. Os mortos sabem tudo.
E lêem-te o pensamento. E eu tremo quando penso
que lá longe, num tempo antigo e já futuro,
num tempo presente e passado,
alguém abrange todo o mundo, o universo
inteiro, tremo quando penso
nos biliões de mortos talvez vivos e infinitos
sabe-se lá onde, sinto uma enorme vertigem
apoderar-se-me do peito quando penso
que também eu, um dia, farei parte dessa multidão
e então o que será das palavras,
mesmo destas, que sentido terá havido em respirar, estar de pé, avançar
no mundo e depois desaparecer.
Talvez então se torne claro todo o mistério,
tudo será tão simples e perfeito
e eu iludir-me-ei que tudo irá para o valeiro
originário, entretanto, continuo a olhar para este céu,
este céu que está aqui agora, diferente,
igual a todos os outros, o mesmo que observava
o primeiro homem – eu agora se só existe
o momento presente -, que o homem do futuro
olhará do mesmo modo, olho para este
céu e, entretanto, retremo ao pensar-me que vivo
aqui e agora, embutido na obra do mundo,
deixando como os outros o meu rasto.
.
.
Lorenzo Patàro
.
(Esta tradução deste excelente poema foi feita e publicada por mim no Facebook com autorização do autor. Atendendo ao facto de ser ainda um texto inédito, não consta aqui o original italiano).
.
.