Soneto: A Prenda (1)
Envia-me uma prenda para que a minha esperança sobreviva
ou os meus pensamentos ansiosos possam dormir e repousar;
envia-me algum mel para adoçar a minha colmeia,
para que nas minhas paixões possa esperar pelo melhor.
Não te peço uma fita tecida pelas tuas mãos,
para tecer os nossos amores no maravilhoso esforço
da juventude agora emocionada, nem um anel para mostrar
a situação do nosso afecto que, como este, é redondo e simples,
assim na simplicidade, deveriam encontrar-se os nossos amores.
Não, nem os corais que envolvem o teu pulso,
entrelaçados, juntos, para que venham mostrar
aos nossos pensamentos como deviam ficar unidos.
Não, nem o teu retrato ainda que tão gracioso
e atraente, porque o que é melhor é do melhor que gosta:
nem os engenhosos versos que tantos são
entre os escritos que tu me enviaste.
Tudo o que de ti já possuo é para mim suficiente:
Jura apenas acreditares como te amo, e nada mais.
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Donee, John. Poemas. Lisboa: Relógio D'Água Editores, 2017, p 81 (Tradução e Prefácio de Maria de Lourdes Guimarães e Fernando Guimarães).
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(1) Este soneto que pertence ao conjunto "Songs and Sonnets" apresenta uma certa liberdade quanto à forma, pois ultrapassa o número habitual de versos que, no caso do chamado estrambote do soneto tradicional, se seguem aos catorze versos do soneto tradicional, pois esse acrescento raramente atinge mais do que dois versos.
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