sexta-feira, 10 de agosto de 2018

A Gazeta de Poesia Inédita publicou hoje um inédito meu. Aqui: https://gazetadepoesiainedita.blogs.sapo.pt/victor-oliveira-mateus-interiores-19260
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                        Interiores
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O abandono estendia-se pela noite.
Nem um marco, por mais insignificante
que fosse, te desenhava uma clareira
alijada nas margens em que ias tecendo
gentes e terras que só tu sabias.
Um rumor avançava pelas fissuras do negro,
uma estranheza que não decifravas,
estampando nos barrotes do teto
um clamor de espíritos antigos,
de náufragos insidiosos
cuja vingança se ia esboroando
entre a trapeira e as latas enferrujadas
com craveiros e malvas à mistura.
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O abandono era o mais recuado cenário
e dele pendia um cabide, uma farda
da guerra de 14-18 com bolor nas bainhas.
Ao lado, entre a embocadura do sótão
e uma cómoda sufocada de molduras,
havia também um relógio de pé alto;
um relógio de mostrador amarelecido,
com numeração romana desenhada
a régua e esquadro. Um relógio
já sem ponteiros nem pêndulo,
relíquia com a qual passarias a medir
esse abandono, que não mais te largaria.
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© Victor Oliveira Mateus.
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