sexta-feira, 3 de agosto de 2018



                        LXXV

          Palavras na Noite


Descansamos, os olhos fechados, envoltas
no silêncio profundo que paira sobre a nossa cama.
Inefáveis noites de verão! Mas ela, que me crê adormecida,
pousa a sua mão ardente no meu braço.

Sussurra: "Estás a dormir, Bilitis?". Meu coração
estremece e, sem responder, continuo a respiração pousada
de uma mulher deitada nos seus sonhos.
Ouço o que me diz perfeitamente.

"Já que não podes ouvir-me, diz ela, ah!, como te amo!"
Diz e rediz o meu nome: "Bilitis... Bilitis...",
e aflora-me com as pontas trémulas dos seus dedos.

"É minha esta boca! Só minha! Haverá outra
que se lhe iguale neste mundo? Ah!, meu tesouro,
meu bem! São meus estes cabelos, esta nuca e estes braços nus..."
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Louÿs, Pierre. O Sexo de Ler de Bilitis (Les Chansons de Bilitis). Lisboa: Relógio D'Água Editores, 2010, p 183 (Prefácio e tradução de Maria Gabriela Llansol).
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