domingo, 23 de setembro de 2018
Domingo à tarde em Falconwwood
O olhar do menino entrou no meu poema
E não mais saiu. Era um olhar sentido
Na revolta de uma exclusão cruel e súbita.
Sentado num banco frente à mesa da festa
não o deixam falar com os conhecidos
Entre vizinhos e colegas de turma na escola.
Quase tudo em seu redor era em miniatura
locomotivas e linhas de volta à infância
Porque o carvão e os apitos são verdade.
O olhar do menino era em ponto grande
e a sua dor tinha o volume da sua idade
Sete anos bem medidos no seu olhar.
Não era problema não o terem convidado
mas sim a proibição de se aproximar
E de comunicar com as crianças da festa.
Festa com pouco de muito recomendável
além de bolos de fábrica e sumos de pacote
Bebés e mães com problemas hormonais.
Vejo no menino de Falconwood o meu olhar
quando na minha vida outros me disseram
Que queres daqui? - como quem bate a porta.
E ao bater a porta deixam do lado de fora
os sonhos de quem, como eu, só queria fazer
Um breve recado sobre o tempo que passou,
Nos jornais, nas revistas e nas editoras
nos encontros e desencontros das letras e da vida
Muitas vezes ouvi a pergunta - Que queres daqui?
Foi esse desprezo, essa vaidade, esse rancor
que eu vi hoje no olhar triste do menino
Nos comboios miniatura de Falconwood.
Lá tudo é miniatura desde o fumo ao apito
desde as várias linhas às passagens de nível
Tudo menos o olhar do menino afastado.
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Francisco, José do Carmo. as casas de blackheath park e outros poemas. Lisboa: Apenas Livros, 2018, p 10.
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Nota - foram respeitadas: maiúsculas, minúsculas e pontuação, tal como está no livro.
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