terça-feira, 27 de novembro de 2018


                       38.

Se tivesses uma mente de inverno,
compreenderias. Agora é tarde.

As aves vinham incendiar a primavera
e com ela as suas certezas.

A amizade com os intangíveis sinais da terra
era posta em causa. Uma coerência
era posta em causa.

Ou não eram as aves incendiárias.
O estímulo podia ser uma árvore dobrada pelo vento,
a extrema relação entre dois elementos
próximos, mas longínquos.

Celebra este muro.
O pretérito aquece-te os ossos,
regressa.
Celebra o que está para lá do muro:

um território não domesticado,
a mecânica dos exotismos,
a fonte de calor.

És, serás sempre, o herói civilizador,
e ignoras a minha fronteira,
o reflexo e a vontade do visível.
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Quintais, Luís. Agon. Porto: Assírio & Alvim, 2018, pp 48-49.
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