Desencontros
Sexta-feira. Horas? Talvez umas quinze, não
sei! Mas que importância tem o tempo, quando tudo é rápido, voraz e sem
consistência? Sexta-feira. Local? Talvez Avenida de Berna, não sei! Mas que
importância tem o espaço, quando tudo é amorfo, desconchavada rotina e as
pessoas teimam seu pouco a fingir de muito com enfeites de luzes e risos postiços?
Caminhas. Agora sem a exibição das marcas, do júbilo nos cenários
resplandecentes, sem uma qualquer ousadia que te transporte e salve, mas tão-só
o olhar perdido, uma mala enorme, o cabelo revolto, a barba por fazer. Caminhas
(agora sim!) com aquele resplendor só acessível aos que na cidade-loba resistem
e que, malgrado os desencontros, nas dobras do tédio insistem. Caminhas de tal
modo perdido e ausente, que nem vês o táxi parado, comigo na tua frente.
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© Victor Oliveira Mateus (Inédito).
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