Jacques Derrida (1930-2004) foi um dos autores que mais procurou desacreditar a noção clássica de verdade, defendendo que o sentido e o alcance de qualquer texto (leia-se igualmente: obra de arte ou objecto estético, que para o autor nada mais é do que um "traço") só pode ser encontrado nos jogos de linguagem que o precedem, e que consequentemente o geram e constroem, afastando, desde logo, qualquer referente externo à própria linguagem (concedida como um post-scriptum a si mesma), seja ele de natureza transcendente, transcultural ou tranhistórica. No seu pensamento, converge desde logo o pós-estruturalismo, corrente que se opõe ao racionalismo e ao cientismo, que o próprio Derrida engloba na noção de logocentrismo (centralidade do logos no pensamento ocidental), enquanto instância de verdade, à qual se afere predominantemente a tradição discursiva do ocidente; isto é, insurge-se contra a tradição a partir da qual supostas noções metafísicas (Verdade, Beleza, Bondade) se apresentam, enquanto pretensos acontecimentos "originários", como a única fonte de validação prévia do discurso.
À semelhança de Ferdinand Saussure (1857-1913), Derrida considera ainda que o homem é, essencialmente, um ser linguístico, mas, ao contrário do autor do Curso Geral de Linguística, recusa o carácter determinístico das estruturas universais da língua, ou seja, por um lado, o signo não tem relação com referentes exteriores a si mesmo, isto é, com uma realidade pré-existente, sendo apenas interpretável na relação com os outros signos; por outro, o significado encontra-se em permanente recomposição, fruto do referido carácter indeterminado da língua, o que implica necessariamente uma leitura "descontrutivista" de todos os significados que tendam a imperializar ou sequestrar a interpretação, inscrevendo-se nessa dupla matriz a dimensão pós-modernista, que caracteriza o seu legado.
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Pereira, José Carlos. O Valor da Arte. Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2016, pp 37-38.
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