sexta-feira, 16 de novembro de 2018


   Lamento de Porfírio ante o túmulo do mestre


Tem o amor tantos nomes e modos
de exacerbar a vontade, que em mim
sempre foi fraca, apenas instigada
pela ânsia de um saber que derramavas
no incipiente vaso que sempre fui.

Quando te ouvia lembrava a cidade
da minha infância, essa Tiro arrasada
por Alexandre, onde cedros, carvalhos
e o rondar dos lobos entorpeciam
a alma, como se um restauro fosse possível.

Quando te ouvia era a minha solidão
que falava, por nos saber evanescentes
no seio de uma unidade que fica,
como esta entrega às tuas palavras
e a uma esposa que sempre me partilhou.

Tem o amor tantos nomes e modos
que engrandecem, aproximam, e nos elevam
para lá do céu azul e da música das esferas,
mas nenhum consegue dizer o que de ti foi grandeza
nesta tristeza em que estás e esperas.
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  Mateus, Victor Oliveira. Aquilo que não tem nome. S/c.: Coisas de Ler Edições, 2018, p 59.
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