segunda-feira, 3 de dezembro de 2018
Ao estar em mim o que me guardo como segredo,
desvendo o que me escondo por dentro,
como se percorresse os oceanos
da minha memória, que não tenho mais.
Fere-me o pássaro da tarde
que traz a noite nos olhos
à procura da árvore para adormecer.
Tudo é pequeno
como a estrela que tenho no bolso,
essa que desapareceu para sempre
sem o brilho dos espelhos.
Não me tenho mais
nem quero ver-me
a andar nas ruas
entre as abelhas e as pedras.
Procuro a igreja dos desesperados,
mas não sei as preces necessárias.
No entanto,
salva-me o silêncio
porque nada mais tenho a dizer.
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Faria, Álvaro Alves de. A duas vozes. Coimbra: Palimage, 2018, p 14.
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