quarta-feira, 5 de dezembro de 2018



E os rumos que gostaria de descobrir
continuam a aprisionar-me
na busca constante da transparência
com que me oculto.

Já sei que a analogia entre a imagem e o reflexo
só pode acentuar a contemplação.
Já sei que tudo parece suspenso
quando um clarão irrompe
da fenda do tempo
e traz ao mundo o sopro
do profundo eco.
Já sei que estamos todos na orquestra
e improvisamos fugas sem arte
como se quiséssemos evitar o grande ensaio
que a vida nos exige cada dia.

Como em exílio
permaneço distante das palavras
capazes de iluminar o meu refúgio.

Ninguém pode ouvir o meu poema
como eu ouço.
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  Regalo, Leocádia. A duas vozes. Coimbra: Palimage, 2018, p 51.
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