terça-feira, 19 de fevereiro de 2019
Elegia para Arthur Rimbaud
Quiçá já não importe
que sejas uma ferida mais ante a minha porta.
Tudo te venceu inutilmente
e, contudo, quando escuto os teus passos,
sei que existem muitas formas
de nos mentirmos.
Cada poema é um gesto de dúvida,
e tu conheceste o tédio dos homens,
atraiçoaste-nos formosamente,
deixando-nos nas mãos
este fogo sem fé,
esta impaciência de todos os dias arrancar
uma etapa à morte,
este impossível cigarro que fumamos
atirando o morrão para o meio da pólvora.
Por isso não me importa
que sejas agora tão precoce quanto esquecido,
que tenhas mordido muitas vezes
as mãos que te deram de comer,
ou me tenhas dado a vida,
irmão, pai ou inconcluso inimigo.
Hoje és tu o ferido,
e cais na soleira de uma porta
que jamais abrirei.
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Olivas, Juan Carlos. Bitácora de los hechos consumados. São José, Costa Rica: Euned, 2011, pp 15-16 (Tradução de Victor Oliveira Mateus).
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