domingo, 24 de fevereiro de 2019

(Em jeito de recensão sobre o último livro de Henrique Levy, O Rapaz do Lilás )
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                         Do Rapaz do Lilás, ou um abraço do tamanho do nosso Mar.



   Enquanto alguém, serenamente, pedia champanhe para dar coragem ao autor que no sítio do jazz se expunha, fui espreitando o resultado das páginas sonhadas pelo Henrique Levy… páginas a que chamou o rapaz do lilás e de que, dias antes, eu tinha ouvido falar ao som das ondas hertzianas de uma rádio.
   … um livro, um poema, um verso que seja, não se escreve sem ser a muitas mãos, nada de solidão poética, pois que – como muito bem dizes - todo o bem esquecido nos descuidados caminhos a vós pertence também! Tal como tu, creio nos anjos que andam pelo mundo – como me ensinou a Natália - e por isso sou ansioso por palavras que, tal como me dizes, sei acordarem dos silêncios estremecidos pelo cintilar das sombras que atormentam os poetas. Entendo, pois, que a poesia diz as coisas tal como elas são, a filosofia explica o que as coisas são e a ciência organiza as coisas.
   É nas mãos, nas mãos inteiras, que se deita a poesia, o amor portanto! E por isto mesmo, nas mãos se transportam os lilases… é claro que é pela ilusão que o mundo floresce! É óbvio que nos deitamos nas mãos… é claro que nos espraiamos nas linhas divididas pelos dedos… é o óbvio metafísico que nos intui a felicidade!
  Encantados pelas saudades dos mistérios que permanecem nas mãos adormecemos ao som de púrpuras ilusões, adormecemos sem ter medo da chegada da madrugada redentora, adormecemos ao som das fantasias procuradas… mergulhamos na poesia que nos ajuda a encontrar a alquimia e a magia que nos descansa. Enfim!
   É pelas mãos que o rapaz do lilás procura a glória de alcançar essas outras mãos que diz inteiras e procura o estar junto a elas segurando o pão em frente ao mar, segurando, deste modo primordial, a vida que sabe ser composta de instantes inesperados. Percebo pois - não sem dor - que ao entardecer, junto ao mar, a vida se lança no rebuliço da espuma que é o leito da memória. Que mais não seja, o rapaz do Lilás, transporta uma espada que me trará um sono reparador, um descanso inusitado, uma alegria simples, uma alegria redentora…
   Quero ir-me já, mas fico… ali, em frente ao lugar do jazz, constatando que em setembro se colhem sombras e frutos e flores, - lilases - pois claro! Percebo enfim que, ao amor, resta o cântico da imensidão salgada! Percebo que é em silêncio que se desembarca em lugares de encantamento.
   - Que fazer então? Pergunto-me. Leio mais um pouco e dou as mãos à nudez do teu corpo ao longe embarcado.
   … levanto os olhos desta imensidão lilás e presto atenção. A função vai começar.
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Obrigado Henrique. Obrigado Henrique Levy.
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eliseu pacheco da silva
30 de outubro, 2019.
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