quinta-feira, 28 de março de 2019


   
                                                      Para Victor Oliveira Mateus

Caminho como uma fogueira no tempo.

Estão longe os dias
que pronunciavam o Louvre.
Tudo respira entre dois hemisférios:
um repleto de harpas e cotovias,
o outro,
hirto de mandíbulas e agónicas ficções.

O corpo,
antigo prado vigiado pela neve.

Cultivámos o aroma da máscara
e a sensualidade está agora
ligada ao ventilador.

A minha mãe
que orava a Cesariny,
repetia a 
Pena Capital.

Dorme meu filho
o amor
será
uma armadilha esquecida
um pano qualquer como um lenço
sobre o gelo das ruas

Abolimos a leveza
de encostar os lábios
e a nebulosa taquicardia
não deixa que a vertigem recite:
o teu corpo é o Guggenheim.

De súbito,
Agosto inala tumulto.

Não entendemos
porque a Aurora Boreal
não continua a girar
à volta do nosso ego.

Como traduzir o Outono
onde a queda é definitiva?

O homem será sempre a partitura de um pântano.
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 Pereira, Alberto. Como num naufrágio interior morremos. Pontevedra: editora Uurutau, 2019, pp 21-22.
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