Para Victor Oliveira Mateus
Caminho como uma fogueira no tempo.
Estão longe os dias
que pronunciavam o Louvre.
Tudo respira entre dois hemisférios:
um repleto de harpas e cotovias,
o outro,
hirto de mandíbulas e agónicas ficções.
O corpo,
antigo prado vigiado pela neve.
Cultivámos o aroma da máscara
e a sensualidade está agora
ligada ao ventilador.
A minha mãe
que orava a Cesariny,
repetia a
Pena Capital.
Dorme meu filho
o amor
será
uma armadilha esquecida
um pano qualquer como um lenço
sobre o gelo das ruas
Abolimos a leveza
de encostar os lábios
e a nebulosa taquicardia
não deixa que a vertigem recite:
o teu corpo é o Guggenheim.
De súbito,
Agosto inala tumulto.
Não entendemos
porque a Aurora Boreal
não continua a girar
à volta do nosso ego.
Como traduzir o Outono
onde a queda é definitiva?
O homem será sempre a partitura de um pântano.
.
.
Pereira, Alberto. Como num naufrágio interior morremos. Pontevedra: editora Uurutau, 2019, pp 21-22.
.
.
.