Jean-Claude Monod, filósofo francês nascido em 1970, especializado em filosofia alemã e filosofia política, grande divulgador da obra de Hans Blumenberg, publicou, em 2007, na La Découverte, o seu "Penser l'ennemi, affronter l'exception - réflexions critiques sur l'actualité de Carl Schmitt". É um brilhante ensaio sobre questões do mundo contemporâneo, sobretudo sobre a perigosidade de, após o 11 de setembro, o estado de exceção se tornar a norma, no que isso vai implicando de limitação às liberdades individuais, ao direito internacional e às regras instituídas pelas diversas Constituições Nacionais. Monod parte, para as suas análises, da filosofia daquele que foi o principal filósofo ligado ao nazismo - Carl Schmitt: num primeiro momento recupera o aparelho concetual de Schmitt, afirmando que ele usou determinados meios teóricos corretos, apesar de ter desembocado em conclusões dscutíveis e terrífícas; num segundo momento, e após fundamentada a possibilidade de recuperação pela esquerda de dadas teias concetuais schmittianas, Monod ilustra esse puxar para esquerda de algumas análises de Schmitt, feitas por filósofos marxistas como, por exemplo, Étienne Balibar - o principal filósofo marxista após a morte de Althusser - em "Prolégomènes à la souveraineté". Schmitt, preso após o final da 2ª Guerra Mundial, acaba por ser libertado e aparece nos Tribunais de Nuremberga, mas apenas como testemunha, e apesar de algumas das suas justificações mais ou menos ambíguas. Monod faz também um estudo comparativo das posições de Schmitt com as de contemporâneos seus, nomeadamente Karl Kraus, e desmitificando alguns argumentos do filósofo alemão, sobretudo com excertos do seu Diário onde se mantém um feroz antisemitismo (a célebre tese schmittiana do inimigo!)). As grandes questões levantadas nesta obra, ao nível do Direito e da Filosofia Política, são aqui magistralmente clarificadas por Monod - exemplo: a célebre dicotomia "legalidade constitucional"/ "verdadeira fidelidade constitucional", ou seja, a distinção: legalidade/legitimidade, dito de outro modo ainda: deveria o último Presidente da República de Weimar ter instaurado o estado de exceção para suster a ascensão do Partido Nazi ou deveria cumprir a Constituição e empossar o novo Chanceler, Hitler. A célebre Teoria do Inimigo, bem como as modalidades do antissemitismo de Schmitt desde os primeiros escritos até ao fim são também exaustivamente analisadas não deixando de fora as posições dos seus detratores, bem como dos seguidores.
"Penser l'ennemi, affronter l'exception" é um livro fundamental para um tempo em que a Teoria do Inimigo assume outros contornos: um terrorismo desterritorializado que, tal como nos últimos dias de Weimar, vem trazer à tona os grandes temas de Carl Schmitt... O sistemático estado exceção ante o "inimigo"? A limitação das liberdades constitucionais perante um "inimigo" agora agrupado em forças irregulares? Urge pois saber "pensar esse inimigo", nem que para isso se tenha de aproveitar o aproveitável do principal filósofo do nazismo. Um livro a não perder! Eis um excerto:
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"Penser l'ennemi, affronter l'exception" é um livro fundamental para um tempo em que a Teoria do Inimigo assume outros contornos: um terrorismo desterritorializado que, tal como nos últimos dias de Weimar, vem trazer à tona os grandes temas de Carl Schmitt... O sistemático estado exceção ante o "inimigo"? A limitação das liberdades constitucionais perante um "inimigo" agora agrupado em forças irregulares? Urge pois saber "pensar esse inimigo", nem que para isso se tenha de aproveitar o aproveitável do principal filósofo do nazismo. Um livro a não perder! Eis um excerto:
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" Aprés la guerre, Schmitt a pu mettre en avant son activité de conseiller officieux et (à certains moments) officiel des derniers chanceliers de la République de Weimer (Bruning, surtout von Papen et plus encore le géneral Schleicher) pour affirmer qu'il avait tenté de sauver la République de Weimer. Mais comment concilier cette affirmation avec la virulence des critiques adressées par Schmitt à ce régime? Il n'est pas impossible que Schmitt ait à la fois attaqué ce régime et jugé qu'il fallait défendre l'État allemand contre les communistes et les nationaux-socialistes. Pour quels motifs? Essentiellement pour des motifs d'ordre, par méfiance envers des partis "révolutionnaires", et suivant cette ordre de principe de soumission à l'autorité malgré tout, ou d'ultra-légalisme que est un espect indéniable de ses attitudes politiques successives.
La Théologie politique de 1922 cite un mot de Joseph de Maistre: "Tout gouvernement est bon dès qu'il est établi." Pour le juriste catholique Schmitt, en un sens, tout gouvernement institué, même mauvais, doit être soutenu dès lors qu'il est le gouvernement établi de l'État.
Le principe d'obéissance à l'autorité impliqué dans son concept de legalité et la valoirisation absolue de l'ordre ont cependant certainement joué dans l'attitude de Schmitt sous Weimer, se mêlant à une dimension nationaliste aux effets ambivalents: plutôt que de "sauver la République de Weimer" politiquement honnie, on peut penser que Schmitt a tenté de "sauver" l'État allemand en tant que'État fort, de sauver l'État fort contre la faiblesse même de la République de Weimer, de sauver ce que Schmitt appelait la Constitution allemand, en un sens qui pouvait et devait être dissocié de la Constitution existante, celle de Weimer. Et il est vrai que, dans ce cadre (et dans ces limites), Schmitt a développé des arguments qui étaient des "armes" contre les communistes, au premier rang, mais aussi contre les nazis, notamment dans l'ouvrage de 1932, Legalitat und Legitimitat, mais aussi dans sa série d'articles de 1932 (...).
Dans les interventions de 1932 que l'on a citées, Schmitt peut ainsi apparaître comme un opposant, direct on indirect, aux intérêts du parti nazi en ascension (...) on peut d'ailleurs se demander comment ceux qui prétendent que Schmitt a toujours déjà été nazi parvient à expliquer cet épisode.
En revanche, le rôle de Schmitt est beaucoup plus ambiqu dans son activité en tant que conseiller lors du "coup de Prusse": le placement du Land de Prusse sous le gouvernement du Reich en 1932, soit un coup d'État contre un gouvernement fédéral socio-démocrate (Otto Braun), Schmitt a développé, dans cette affaire, contre le gouvernement fédéral, des arguments très hostiles ao parti communiste allemand, mais plus favorables au parti nazi. Plusiers ouvrages ont été consacrés récemment, en Allemagne, à cet épisode (...) Dirk Blasius, y voit le moment où Schmitt a franchi le Rubicon pour rejoindre les rangs de ceux qui voulaient abattre Weimer, et d'abord des nationaux-socialistes, et ouvré, par ses contacts, ses argumentations, à abattre l'État prussien démocratique, qui était le dernier rempart solide contre Hitler."
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Monod, Jean-Claude. Penser l'ennemi, affronter l'exception - Réflexions critiques sur l'actualité de Carl Schmitt. Paris: La Découverte, 2016, pp 44-46.
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