terça-feira, 11 de junho de 2019



Quando eu morrer quero tuas mãos sobre os meus olhos:
que a luz e o trigo das tuas mãos amadas
passem uma vez mais sobre mim seu frescor:
sentir a suavidade que mudou meu destino.

Quero que vivas, que eu, a dormir, espero-te;
que teus ouvidos continuem a escutar o vento,
que cheires o aroma do mar que amamos juntos
e continues a pisar a areia que pisamos.

Quero que o que amo continue bem vivo
e a ti amei e cantei sobre todas as coisas,
por isso continua a florescer, florida,

para que alcances tudo o que o meu amor te ordena,
para que a minha sombra passeie em teu cabelo,
para que assim conheçam a razão do meu canto.
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  Neruda, Pablo. Antologia. Lisboa, Relógio D' Água Editores, 1998, p 385 (Tradução de José Bento).
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