quarta-feira, 11 de dezembro de 2019
Salomé após o crime
Quantas vezes te vi
e me surpreendi porque te olhava?
Sentindo a tentação de te espiar
e o desejo de amar
o que não tinha
Como saber
pelos sonhos mais nus
que me assaltavam
que eu não era paisagem
para ti?
Dizem luxúria só
onde houve amor
e um crime tão enorme de luxúria:
mas eu quis-te indefeso
como festa,
os teus lábios a festa para mim
Quantas vezes me vi
pensando no meu crime
e na história dos homens
a julgar-me!
Mas o que eu li
na bandeja do crime
foram os olhos com que tu
me olhavas
(finalmente eu paisagem)
e a luxúria
que há sempre
no amor
Amaral, Ana Luísa. Ágora. Porto: Assírio & Alvim, 2019, pp 41-42.
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