terça-feira, 10 de dezembro de 2019
Carta a mim mesmo
Entre um mar de imagens vago
bêbedo nas paisagens interiores
da madrugada.
Lembro os cavalos que um dia
montei num poema improvisado.
Cavalos que saltavam a incerteza
e a carne acumulada da solidão.
Lembro as casas sem luz, estranhas
que um dia ergui com palavras.
Agora sou aquele construtor
mais velho, mais lavrado
seu coração de pedra,
mais limpo e menos pesado,
livre das lascas que arrancaram
o amor e o mar,
as garras do medo e do vento.
Sagrado cinzel do amor,
dá-me tempo
para olhar a imagem esculpida
da verdade que levo dentro.
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Salgueiro, Alfredo Ferreiro. Teoria das Ruínas. S/c.: Poética Edições, 2019, p 37.
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