quinta-feira, 19 de março de 2020


"Os dedos trans-lúcidos do escrevinhador" de Adalberto Alves (Editora Labirinto, coleção contramaré Nº 29).
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não sei o que é mais doloroso:
se o veleiro das palavras desgastadas
se o pulsar desgastante do silêncio...

como embuçados que somos,
pela vida fora empunhamos a vida
como se fosse um troféu ardente.

porém, nunca sabemos muito bem,
no meio do ruído cego que nos cerca
o que havemos de fazer com ela...
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 Alves, Adalberto. Os dedos trans-lúcidos do escrevinhador. Fafe: Editora Labirinto, 2020, p 69.
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Sessão de apresentação do livro "Os dedos trans-lúcidos do escrevinhador" de Adalberto Alves (Editora Labirinto, 2020). Este evento, decorreu na Livraria Ferin em Lisboa no dia 05/03/2020 e integrou-se nas Comemorações dos 40 anos de vida literária do autor. Na mesa, e da direita para a esquerda: Victor Oliveira Mateus, Maria João Cabrita, Adalberto Alves, Ronaldo Cagiano.
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segunda-feira, 9 de março de 2020



rápido é o mundo que gira na cabeça e quase nunca
está à altura dos nossos sonhos. os sonhos não são mais
do que estátuas de sal: olham para nós, atónitos e mudos,
ora nada disto é sadio, nem pleno, nem enxuto, se entre
nós e Vida se interpõe a vida, que é uma ciranda. só nos
cabe rodar e rodar, sem parar, até aparecer o carrossel de
luz que gira por detrás de toda a escuridão da Existência.
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 Alves, Adalberto. Os dedos Trans-Lúcidos do Escrevinhador. Fafe: Editora Labirinto, 2020, p 24.
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domingo, 1 de março de 2020


Não vem do céu, não vem do mar, não condena o musgo, não dissolve os caminhos. É um vapor sincopado que nos comove a esperança, enchendo o peito com uma enciclopédia em branco, subindo-nos à cabeça, como um rasto de leopardo gasoso, descosendo as nódoas magnas, uma a uma, até ser aquela lança aguda, alfinete secreto de noiva, cravando a sílaba fértil, no buraco negro do silêncio.
(...) O coração quando não pode falar, diz à poesia que avance sem cão de guarda, que suba a muralha sem andaimes, que levite sobre a música, enchendo o peito, com a luz do que é preciso amar, mesmo que a cabeça, oh, pobre cabeça, ainda hesite, se corta ou não corta, o acesso às palavras, pela vela que escorre sem parar.
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  Gonçalves, Daniel. Fluviário das horas póstumas. Ponta Delgada: Confraria do Silêncio, 2019, pp 109-110.
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