Rainha:
Se é a lei comum, por que aparentas afligir-te, como se isso fosse para ti um caso particular?
Hamlet:
Eu não aparento, senhora, é bem uma realidade; não conheço aparências. Minha boa mãe, não é somente o meu manto negro como tinta, nem o aparato ordinário do luto solene, nem os suspiros gementes duma respiração opressa, nem os olhos transformados em rios de lágrimas, nem o aspecto acabrunhado do rosto, nem o cortejo de fórmulas, expressões, sinais de pesar, que podem traduzir a verdade do meu coração! Essas coisas são com efeito aparências, porque são actos que um homem pode fingir; mas eu tenho em mim alguma coisa que ultrapassa todas as manifestações exteriores que nada mais representam do que a libré e os atavios da dor...
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Shakespeare, William. Hamlet , Acto I, Cena II. Porto: Lello & Irmão Editores, S/d., pp 47-48 (Tradução de Domingos Ramos).
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