Há dias em que o coração aperta e vou às árvores
Como que para me vingar. Aceno com o lenço
Para o longínquo e muito custosamente
Decido não chorar, enquanto faço
Com que o machado corte, ampute, abata, arruíne.
Depois lamento o trabalho que faço,
Nem mais nem menos do que um homicídio
Em massa, pior ainda porque é premeditado.
É detestável o confinamento, a intenção
Sonegada de me aproximar dos outros,
O ridículo de algumas situações em que caímos.
Como se adiam os beijos que não damos?
Com que cobardia andamos afastados?
Que derrotados poemas são estes que escrevemos?
Amadeu Baptista. poeira escura. Leça da Palmeira: edições Eufeme, 2021, p 55.
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