Telescópio
Há um momento após desviares o olhar
em que te esqueces de onde estás
pois tens vivido, parece,
noutro lado, no silêncio do céu nocturno.
Deixaste de estar aqui no mundo.
Estás num lugar diferente,
um lugar onde a vida humana não tem sentido.
Não és uma criatura num corpo.
Existes como as estrelas existem,
participando na sua quietude, na sua imensidão.
Até que voltas a estar no mundo.
De noite, numa colina fria,
a desmontar o telescópio.
Só depois percebes
que não é falsa a imagem
mas a relação.
Vês de novo como cada coisa
fica tão longe de todas as outras.
Louise Gluck. Averno. Lisboa: Relógio D' Água Editores, 2020, p 125 (Tradução de Inês Dias).
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