Estarei longe das serras eléctricas dos homens
só e soberana. Por enquanto sou um sonho
concentrado em ser "Eu" fora de mim
ser fruto e abrigo para as aves.
Tudo o que está em estado nascente é poético
mas também o que está em estado poente o é.
Tudo o que se desvanece evanesce.
Cansado pelo longo caminho de pedras e cardos
tinha as botas gastas e os pés quase nus em ferida
quando um gato me saltou em frente
velho, era só pele e osso, arranhado em chagas vivas.
Debrucei-me sobre ele. Era afinal uma gata.
Os olhos claros eram ainda belos
beijei-a na boca e ambos nos salvámos.
Não tínhamos ainda chegado ao fim do caminho.
Manuel Silva-Terra. Holderlin. S/c.: Editora Licorne, 2021, pp 32-33 (Prefácio de Isabel Aguiar).
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