domingo, 12 de dezembro de 2021


É antigo o meu olhar. Vejo de muito longe e com traços inseguros todos os caminhos.
O tempo passa como um pressentimento inquieto. Afasta-se. Estreita-se. O que me espera, eu sei, é o ruidoso silêncio do esquecimento.
As minhas raízes hão-de fincar-se na terra, revelando o sinal invisível do abismo, à espera das cinzas, na perfeita simetria do coração, nas inumeráveis palavras.
Os meus passos, mais lentos, devoram a distância que me separa da mudez e conhecem a cor da poeira levantada pelos pés quando os pássaros iniciam um voo solitário.
Para além do horizonte, o mistério do invisível pertruba-me como um recomeço sem memória, sem limites, sem retorno.
Estendo as mãos para tocar a luz cada vez mais distante, cada vez mais indecisa, cada vez mais imprevista. E fixo essa luz até ao apagamento do brilho nos meus olhos.
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 Graça Pires. Antígona passou por aqui. S/c.: Poética Edições, 2021, p 80.
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