sábado, 11 de dezembro de 2021


Continuarei a definir o exíguo espaço de uma errância no culto da palavra. Habita-me a expectante mudez de um náufrago preso ao barco que o salva.
Escavo o traçado de um alfabeto de subtil simbologia. Como deriva de âncoras sem retorno, ou um sacramento, ou uma gíria mística, ou uma vaga promessa de alegria, protejo na bainha do texto uma sintaxe quase sagrada.
Na lonjura de vozes antigas seguro a luz. Assombro-me da paisagem. Deixo que as palavras cedam inteiramente ao indizível subterrâneo da paixão.
Com um alarido preso à boca, leio os poetas das palavras claras e quebro no interior das pálpebras os versos mais cúmplices.
Semelhante a um primitivo nómada, guardo comigo o fogo da poesia, para que nunca se extinga e me seja confissão e esconderijo.
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 Graça Pires. Antígona passou por aqui. S/c.: Poética Edições, 2021, p 52.
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