quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022


Se te dou a mão é por receio, é a maldade dos corpos
que como árvores se despem no vento. Solitárias.
A idade que tudo transfigura. A solidão nasceu
e em pedras deixou-se ficar nos leitos
onde as águas escorregam mudas e em pânico,
os seus leitos de morte, de pânico surdo.
Soou o desespero dos homens, as sombras mais severas
vibraram
ao peso do ar, e é noite.
Água escura sobre tão solitárias pedras,
no vazio das janelas
que se querem trancadas, por onde o vento
sem licença para entrar.
Os corpos não se despem mas pela mão unem-se
no seu lamento comum.


  Miguel Marques. Canto de Tebas. Silveira: Letras Errantes, 2021, p 46.
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