Geres, 23 de Agosto de 1942 - Não queira coisas impossíveis, - dizia-me hoje uma mulherzinha que andava na serra à lenha, quando eu tentava subir a uma penedia inacessível.
- Quero, quero! - respondi-lhe obstinado.
Ela então olhou-me com uns doces olhos de ovelha tosquiada pela vida, e sorriu melancòlicamente. Depois, pôs o molho à cabeça, e partiu.
E eu fiquei-me o resto da tarde ali, a ver cair o sol e a pensar em que sonho irrealizável teria aquela alma simples posto um dia o desejo, para com a sua desilusão formular uma frase tão carregada de renúncia e amargura.
Miguel Torga. Diário II. Coimbra: 4ª Edição, p 58.
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