Em certa idade, o cinzento é uma cor alegre
Aprecia tudo quanto tens.
Que não te importe se chove ou faz sol,
desde que o possas dizer.
És dono de um tesouro
que apenas a ti pertence e ninguém
to pode destruir.
Tenta ser feliz
fruindo todo o efémero que subjaz no perene,
desfrutando o eterno do fugaz.
É sabedoria da vida
que por vezes um segundo contenha um ano inteiro;
que o perfume se dissipe e a rosa persevere.
Se viveres o suficiente,
verás que com a idade se tornam relativos
os prazeres e as sombras:
que no esquecimento se alberga a memória
e a memória esquece
que tudo não é mais do que eco.
E, sobretudo, tem presente.
(O futuro é silêncio,
e o momento que vives e se apaga
pode bem ser o último, por isso
cuida desse teu tesouro).
Apenas de ti depende
a alegria do último momento.
Antonio Manilla. Lenguas en los árboles, Antología poética (1997-2022). Granada: Aliar Ediciones, 2023, pp 83-84 (Tradução de Victor Oliveira Mateus).
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